O apelo do Amazonas pelo envio urgente da Força Nacional de Segurança para conter a onda de ataques que aterroriza Manaus desde a noite de sábado evidencia o poder das facções do narcotráfico e a necessidade de ações integradas nos diversos níveis de governo para conter o problema, que não se limita às divisas daquele Estado e do qual não estamos imunes.
A origem imediata das explosões de agências bancárias, prédios públicos, ônibus e outros veículos está na morte de Erick Batista Costa, líder do Comando Vermelho no Amazonas, por policiais. As causas profundas estão no controle da rota amazônica de cocaína e armamentos através da tríplice fronteira (Brasil, Peru e Colômbia) – uma área onde, para cada barco das Forças Armadas, há 45 km de território a ser vigiado.
No ano passado, o Comando Vermelho tomou o controle do território da Família do Norte após uma guerra que envolveu também o PCC paulista e se arrastou desde 2016 em rebeliões sangrentas em presídios de Boa Vista, Manaus e Altamira. O que está em jogo nessa disputa é um mercado em todo o Brasil estimado em US$ 17 bilhões anuais pelo Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (UNODC) – valor que equivale a cinco vezes o total das despesas do Ministério da Justiça para este ano.
A Força de Segurança Nacional pode atuar em uma das pontas desse conflito – a contenção da violência nas ruas –, mas é preciso ir além, na asfixia dos serviços financeiros dessas organizações, no controle eficiente de fronteiras nacionais e na gestão dos presídios, onde quase 1 milhão de detentos servem de exército potencial para as facções. Enfim, se o tráfico ignora fronteiras e divisas, o combate a ele também deve ser coordenado e abrangente, sob pena de uma repetição sem fim da violência.