Editorial

Armas e civilização

Segurança pública e crescimento do registro de armamentos de fogo em Minas Gerais


Publicado em 25 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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A busca da segurança foi um dos motivos que levaram o homem a viver em sociedade, um processo civilizatório que permitiu transferir para a produção e para o bem-estar próprio e da família a energia que gastaria em uma infinita guerra de todos contra todos. Para isso, foram criadas leis e instituições com o monopólio do uso legítimo da força para assegurar que elas sejam cumpridas. Mas, hoje, avança a crença de que o indivíduo armado seria mais capaz de se defender.

Em O TEMPO do dia 24, o repórter Lucas Morais mostrou que, em dois anos, o número de registros legais de armas de fogo mais que dobrou em dois anos em Minas. Somente de janeiro a maio, a Polícia Federal emitiu 14.221 licenças de posse, sendo oito em cada dez dessas para cidadãos comuns. Um movimento decorrente da flexibilização da legislação em 2019.

Argumenta-se que o maior acesso a armas reduz a criminalidade. O Monitor da Violência mostra que, em MG, havia até 2,44 mortes violentas por 100 mil habitantes. Realmente, caiu para entre 0,95 a 1,34 morte violenta por 100 mil pessoas no primeiro ano de vigência das novas leis.

Mas o ritmo de declínio não continuou. Em 2020, o índice variou de 0,91 a 1,38 por 100 mil mineiros e pouco mudou nos primeiros três meses de 2021 (entre 0,9 e 1,15 por 100 mil). E as mortes por armas de fogo já estavam em queda desde o Estatuto do Desarmamento, em 2003.

Agora, armas ficam perigosamente disponíveis dentro de casa em um período de isolamento. Lembrando que, pelo Atlas da Violência do Ipea, uma mulher morre a cada duas horas no Brasil (um terço em seus lares), e metade delas é vítima de armas de fogo. Segurança pública, em uma sociedade moderna, é dever do Estado. Ter que reivindicar para si essa tarefa é não só um risco à vida, mas um retrocesso da civilização.

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