Quase três meses de isolamento mudaram o comportamento dos consumidores. Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou a maior deflação dos últimos 26 anos. O IPCA-15 de -0,59%, considerado uma prévia da inflação de maio, é um retrato da estagnação da economia, mas também da transformação dos hábitos de compra.
Como esperado, sem que a população pudesse sair de casa, gasolina, passagens aéreas e transportes foram os principais responsáveis pela queda de preços. Mas, mais significativamente, o custo dos alimentos subiu bem menos do que o esperado. Após um mês de abril ainda com forte especulação pelo medo de desabastecimento, em que a alta foi de 2,46%, no índice de maio os produtos tiveram um reajuste médio de 0,46%.
Com poucas lojas abertas e mais tempo em casa, as pessoas passaram a avaliar melhor o ato de compra, descobrindo que alguns bens, antes considerados essenciais, poderiam muito bem ser trocados ou simplesmente dispensados.
A lição do consumo mais responsável ganha caráter primordial neste momento em que a quarentena é flexibilizada nas grandes cidades. Primeiro, porque – como o vírus continua ativo e sem cura – ficar perambulando nas ruas atrás de uma compra por impulso é um comportamento de alto risco à própria vida e à de terceiros.
Em segundo lugar, o reaquecimento sustentável da economia dependerá não de um consumo desenfreado – receita garantida de perdas pela inadimplência em um país onde 17,2 milhões de lares não possuem renda decorrente de trabalho assalariado –, mas da circulação de recursos nos setores mais produtivos. Isso só se consegue com o cultivo de um hábito de compra consciente e planejado em agentes econômicos responsáveis com o futuro da sociedade.