Os dados econômicos divulgados no fim de 2019 trouxeram expectativa de retomada do crescimento, mas as estatísticas devem ser olhadas com cuidado para não cegar em relação às profundas desigualdades que obstruem o desenvolvimento nacional.
O medo de perder o emprego, índice medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), recuou para 56,1 pontos no trimestre (numa escala de 0 a 100 pontos). O otimismo reflete o recuo de 2,5% no índice de desemprego medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Aprofundando-se nos números do CNI, percebe-se que o índice extremamente positivo para os homens com rendimento puxa o resultado para cima. Quando questionados sobre as expectativas de continuar no emprego, os trabalhadores com salário foram muito mais pessimistas. E o índice percebido de 69,7 pontos é 0,9 ponto maior que o do ano passado.
E as mulheres, cuja insegurança trabalhista é tradicionalmente maior que a dos homens, aparecem como o segundo maior grupo com medo de perder o trabalho, com índice de 63,2 pontos – alta de 0,6 ponto no ano.
Mesmo com a recuperação do emprego, o número de vagas informais – e com remuneração e garantias menores – é o mais alto da série histórica do IBGE, com 38,8 milhões de brasileiros atuando sem carteira assinada. Isso significa quase 1 milhão de pessoas a mais na informalidade no período de um ano.
Enfrentar a desigualdade social deve ser um pensamento prioritário nos planos da equipe econômica, sob o risco de que o esperado crescimento ocorra apenas para poucos e, infelizmente, resulte apenas em mais um dos famosos “voos de galinha” que marcaram as últimas décadas.