Um andarilho ter 80% do corpo queimado na capital chama a atenção para uma população normalmente invisível para a sociedade – apesar de que, nos últimos tempos, tem sido impossível não enxergar os diversos grupos de pessoas dormindo nas calçadas de bairros como Carlos Prates, Floresta, Savassi e no hipercentro.
O Ministério do Desenvolvimento Social chegou a estimar em 7.000 o tamanho da população em situação de rua, e a capital trabalha com uma estimativa de cerca de 4.500. Uma das explicações para essa diferença de números está na flutuação desse grupo social, motivada acima de tudo por fatores econômicos.
Apesar de o número de desempregados estar em ligeiro declínio, mais de 12 milhões de brasileiros seguem à procura de um emprego – um em cada quatro deles, há mais de dois anos.
Boa parte das vagas que surgem está no setor informal, o que acarreta um achatamento da renda. Em quatro anos, 6,27 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza e passaram a viver em lares onde os ganhos por pessoa são menores do que R$ 233 por mês.
De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, uma remuneração para garantir acesso a alimentação, vestuário e habitação (de acordo com a lei que instituiu o salário mínimo) não poderia ser menor do que R$ 4.000.
Sem falar na crise que assola os municípios do interior. Com problemas de arrecadação e dificuldades para receber repasses constitucionais, não são capazes de criar oportunidades para evitar o êxodo para os grandes centros.
O avanço da população de rua é sintoma de um mal que só se combate com políticas sociais e de crescimento econômico consistentes e do qual não se pode desviar os olhos.