Desperdício de recursos

Diante do fato de que 35 milhões de brasileiros não têm água em casa, é motivo de preocupação que três de cada dez litros tratados sejam desperdiçados, segundo o Ranking de Saneamento Básico, divulgado ontem pelo Instituto Trata Brasil. Se pensarmos que tornar mil litros de água próprios para o consumo custa em torno de US$ 16 (segundo dados da Unifesp), isso é literalmente jogar dinheiro pelo ralo.

O relatório, realizado com dados de 2018 do Sistema Nacional de Informações de Saneamento, revela que, das cem maiores cidades brasileiras, apenas três possuem níveis considerados ótimos – com menos de 15% de perdas na distribuição. E, dos 20 municípios mais eficientes, apenas dois são mineiros (Uberlândia, em 15º lugar, e Juiz de Fora, em 19º).

O índice de 34,4% nas cem cidades representa uma evolução em relação à pesquisa anterior, quando o desperdício foi de 39,5%, mas ainda está muito longe de países como Austrália, onde a perda é de invejáveis 7% da produção.

No momento em que o Congresso discute o Marco Legal do Saneamento (PL 4.162/2019), o Brasil ainda luta para superar o desafio de investir pelo menos R$ 114 por habitante a cada ano pelos próximos 15 anos, para assegurar a universalização do serviço de água.

Mas o investimento médio atual é de R$ 67,91, levando-se em conta somente as capitais – patamar no qual se encontra Belo Horizonte, segundo os dados do ranking do Trata Brasil. E há municípios brasileiros em que o valor mal chega a R$ 30.

Face às mais de 260 mil internações anuais no Sistema Único de Saúde (SUS) devido a doenças transmitidas por água não tratada, como hepatite, cólera e verminoses, aplicar recursos em saneamento é mais do que oferecer comodidade à população, é uma questão de saúde pública.