Com o aumento do número de casos de infecção pelo coronavírus no Brasil, ganha força nas redes sociais um movimento de estudantes pedindo o adiamento da aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), marcado para os dias 17 e 24 deste mês. O Ministério da Educação disse que não considera reagendar a prova e garante que investiu em medidas de prevenção à proliferação da Covid-19. Contudo, o exame ganhou grandes proporções nos últimos anos, e, por mais que haja um protocolo de segurança para os locais de prova, a mobilização em torno do teste causa temor quanto à chance de infecção. O Enem é uma complexa corrida rumo à chance de mobilidade social, da realização de um sonho, de uma sociedade mais justa.
Estudantes disputam décimo a décimo para ingressar em uma universidade usando a nota do Enem. Uma diferença mínima na preparação para o exame faz uma diferença enorme no resultado. Grande parte dos 6 milhões de inscritos não pode chegar ao local de prova no conforto de um carro de sua família. Na Bahia, por exemplo, dos 417 municípios, apenas 161 têm aplicação do teste. Alunos de outras cidades devem viajar para realizá-lo. Nos centros urbanos, muitos têm apenas o transporte coletivo como meio de se deslocar até o local em que devem fazer o teste, sendo comum ver ônibus cheios nos dias da aplicação. O medo do contágio pode fazer com que o número de abstenções seja alto, principalmente entre os mais pobres.
Não abrir sequer o diálogo para alterar a data do exame mostra descaso com o futuro de milhares de jovens vulneráveis socialmente. O Enem se firmou como a grande porta de esperança para a redução da desigualdade por meio da educação, e essa conquista não pode ser manchada sequer em um único ano.