A proposta de liberação de cerca de R$ 50 bilhões das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS/Pasep promete ser um alento ao consumo e dar um empurrão na retomada do crescimento, mas exigirá cuidados da equipe econômica. Em 2017, quando o então presidente Michel Temer injetou no mercado R$ 44 bilhões das contas inativas do fundo, o Produto Interno Bruto, que vinha de dois anos em queda, conseguiu avançar 1%. Agora, as estimativas da agência Bloomberg são que a medida possa ter um impacto imediato de 0,5% na economia. Para o próximo ano, as projeções são ainda mais otimistas, de pelo menos mais 1%. Números tentadores, principalmente quando se observa que, no início do mês, cortou pela metade sua previsão de crescimento para 2019 (0,81%) devido às dificuldades da indústria e até ao impacto da tragédia de Brumadinho sobre a mineração nacional. De acordo com o IBGE, o que vem impedindo um retrocesso ainda maior é o consumo das famílias – exatamente o alvo da liberação dos recursos do FGTS –, que subiu 1,3% no ano passado. O problema é que o ritmo de alta vem decrescendo trimestre a trimestre, em função do elevado índice de desemprego, do achatamento salarial e o fantasma da inflação. Outro ponto que merece a atenção da equipe econômica é a construção civil. O setor conta com R$ 69 milhões das contas do Fundo de Garantia para financiamento imobiliário, habitação popular – sem falar em obras de saneamento de infraestrutura (outra fonte, as cadernetas de poupança estão minguando, com saques mensais superando os depósitos em mais de R$ 700 milhões por mês). O número de lançamentos de imóveis caiu até 60%, nos últimos anos, o PIB do setor encolheu 28%, e cerca de 1,2 milhão de profissionais do setor foram demitidos. Para o governo, o desafio de engenharia econômica será erguer o consumo sem aprofundar a crise na construção.