Estatística preocupante

O Brasil tem 12,9 milhões de desempregados. Essa afirmação, em tempos normais, já seria preocupante, mas, em meio à pandemia, com indústrias e lojas fechadas, traz um alerta a mais: ela não reflete a nova realidade do país. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados trimestrais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Porém, boa parte do período não foi retratada no estudo.

Devido ao isolamento necessário para enfrentar o coronavírus, as pesquisas sobre emprego e renda têm sido feitas por telefone – com muita desconfiança e resistência dos entrevistados. Em março, de 70 mil domicílios consultados, perto de 60% responderam às perguntas. Antes da Covid-19, o IBGE tinha um dos índices de retorno mais altos do mundo, passando de 90%. Essa é uma situação que acende o alerta para um perigoso “apagão estatístico”.

No início da semana, o Ministério da Economia indicou que o fosso pode ser maior, uma vez que 1 milhão de pessoas se habilitaram para o seguro-desemprego desde o início da pandemia.

Os dados da Pnad são essenciais para orientar políticas públicas. Seja para formulação de estratégias de preservação do emprego ou de assistência aos autônomos e informais, como bem demonstrou a dificuldade de cadastrar e pagar o auxílio-emergencial de R$ 600.

E, diante do atual cenário, os números da Pnad mostram um horizonte desafiador. Ao menos 70 milhões de brasileiros atuam por conta própria, sem carteira assinada, ou são informais. Eles constituem uma massa duramente atingida pela desaceleração da economia, que hoje está desassistida por programas formais de amparo ao trabalhador e para a qual um socorro “às cegas”, sem o auxílio de estatísticas confiáveis, seguramente chegará tarde demais