EDITORIAL

Isto é Brasil

Autorizado pelo Supremo, o ex-presidente Lula pôde dar sua primeira entrevista na prisão


Publicado em 28 de abril de 2019 | 03:00
 
 
 
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Autorizado pelo Supremo, o ex-presidente Lula pôde dar sua primeira entrevista na prisão, na semana passada. Na ocasião, ele informou a seus entrevistadores que aproveitou esse tempo para ler muito e ver filmes – forma de dizer que cresceu, intelectualmente.

Da experiência, esperava-se que saísse um outro Lula, mais sábio e conformado com o sofrimento. No entanto, o que surgiu foi o mesmo Lula, vaidoso e autossuficiente, disposto a pôr mais lenha na fogueira da política pelo uso de uma linguagem desabrida.

O tempo passado na prisão não serviu para o ex-presidente refletir principalmente sobre os erros cometidos por ele e seu partido e que, junto com os praticados também pelos liberais e social-democratas, conduziram o Brasil à situação de impasse em que está.

Na entrevista, o ex-presidente desfiou os mesmos argumentos de sempre: que é inocente, que não houve corrupção, que não houve crime e que é vítima de uma perseguição política de caráter pessoal (apesar de ter sido condenado por três tribunais diferentes).

A entrevista pode alimentar o ânimo de seus correligionários, mas não faz bem ao Brasil. Ao contrário, vai provocar o lado contrário, o que já está acontecendo, e isso num baixo nível que o país definitivamente não merece. Ou isso é o Brasil que existe?

Segundo o cientista político Fernando Abrucio, “a linguagem política é um dos indicadores da qualidade da democracia de uma nação”. Ela diz respeito “à maneira como os atores políticos e sociais falam, dialogam e negociam”, dando voz às leis e instituições.

Como bem avaliou a ex-candidata a presidente Marina Silva, a atual radicalização do discurso político foi chocado pelos erros do passado recente que o ex-presidente não reconhece. Para ele, não tem problema ficar, como um Cristo, o resto da vida na prisão.

A arte do diálogo é essencial para a construção de uma democracia.

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