Editorial

Juros perversos

Queda da Selic e taxas explosivas nos bancos


Publicado em 06 de maio de 2020 | 03:00
 
 
 
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Os analistas financeiros dão como certo que o Conselho de Política Monetária (Copom) anunciará hoje a 15ª redução da taxa básica de juros, deixando a Selic no patamar de pelo menos 3,25% ao ano. Mas o alívio necessário que ela representa para o setor produtivo se perde no comportamento especulativo e ganancioso de bancos, que mantêm taxas absurdamente elevadas para este cenário e liberam crédito a conta-gotas para pessoas físicas e jurídicas.

Para se ter uma ideia, uma dívida de R$ 1.000 corrigida pela Selic de abril ao fim de um ano somará R$ 1.037,50. Agora, se esse débito for com o rotativo do cartão de crédito, as taxas de 326% ao ano – a média praticada pelas instituições brasileiras – transformam aquela mesma cifra numa “bola de neve” de R$ 4.259. Diante desses números, os juros de empréstimos para empresas e consumidores poderiam parecer menos draconianos, mas eles são mais de dez vezes maiores do que a Selic.

Além disso, esses recursos não chegam a quem precisa. Uma pesquisa do Sebrae revela que os bancos negaram crédito para seis em cada dez pequenos negócios que buscaram seu auxílio no início deste ano. Isso ocorre mesmo com o Banco Central tendo disponibilizado R$ 1,2 trilhão dos compulsórios para o sistema financeiro nacional destinar exclusivamente a empréstimos.

Por trás dessa situação injusta para os tomadores de crédito, está um dos setores menos competitivos do planeta. Apenas cinco bancos concentram 85% do mercado financeiro do Brasil, o que assegurou a eles um lucro de R$ 81,5 bilhões no ano passado. Mas, mais do que isso, esse oligopólio garante um poder perverso de ditar as regras, insuperável para a maioria das empresas e dos consumidores no momento em que estão mais desesperadamente necessitados.

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