O fim da era Trump, com a posse de Joe Biden na Presidência dos Estados Unidos na tarde de ontem, significa uma transformação importante nas relações internacionais e um severo desafio à diplomacia brasileira.

Os dois anos de alinhamento automático com o governo republicano não renderam os ganhos comerciais esperados. As exportações para os norte-americanos, que haviam crescido 3,6% no primeiro ano da gestão de Ernesto Araújo à frente do Itamaraty, despencaram 27,8% no ano passado, no mais baixo nível desde 2010, muito em função da crise da pandemia.

O Brasil abriu mão do tratamento especial para países em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC) e seguiu diversos votos de Washington, como o contra a flexibilização de patentes de medicamentos. Mas, na hora da contrapartida, a desejada recomendação de acesso à OCDE – o clube dos países ricos – foi para a Argentina e a Romênia, parceiros comerciais bem mais modestos dos EUA.

Biden – cuja vitória o Brasil foi o penúltimo a reconhecer, à frente apenas da ditadura norte-coreana – sinaliza uma retomada do multilateralismo abandonado por Trump e pelo Ministério das Relações Exteriores brasileiro, além de, já na campanha eleitoral, ter cobrado do Planalto maior proteção à floresta amazônica e ao meio ambiente.

Esses fatos não transformam o Brasil no “pária internacional” uma vez citado por Ernesto Araújo. Mas a guinada nos EUA e a urgência de obter no exterior insumos para o combate à Covid-19, claramente, demandam uma diplomacia menos ideológica e lastreada no combate a um suposto globalismo internacional, e mais pragmática, dentro da tradição do barão de Rio Branco, patrono da política externa nacional.