O diário de Lorenza Maria Silva de Pinho, revelado em matéria exclusiva da repórter Alice Brito para O TEMPO e Super Notícia na quarta-feira, retrata uma rotina de medo que é partilhada por várias mulheres brasileiras. As mensagens que fazem parte do inquérito sobre a morte dela, ocorrida no dia 2 de abril na região Oeste de BH, relatam discussões familiares, brigas com o marido e um temor que, em momento de desespero, quase a fez cometer suicídio.
Não por coincidência, no mesmo dia em que esse relato veio a público, uma faxineira de 50 anos foi mantida refém por 14 horas e estuprada repetidamente sob ameaça de morte, e a polícia abriu inquérito para investigar abuso sexual praticado contra uma jovem de 24 anos em uma loja na capital mineira.
Somente no ano passado, os canais de atendimento do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos receberam 105.671 denúncias de violência contra mulheres no Brasil. Isso equivale a 30,2% de todos os casos de agressões e abuso denunciados no ano passado, independentemente de gênero ou tipo de ocorrência.
Mas esse universo de violência é muito maior, protegido por uma cultura que favorece a subnotificação e a impunidade dos agressores e submete as vítimas a um calvário de vergonha e humilhação quando se levantam contra a ameaça.
Na Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, divulgada no início deste mês, constatou-se que 19,4% das mulheres sofreram algum tipo de violência física, sexual ou psicológica e que 12% delas tiveram de se ausentar do trabalho em função das agressões.
É urgente romper essa cultura de abuso e essa rotina de medo e violência para que os pedidos de socorro nunca mais cheguem tarde demais às autoridades.