A decisão de uma grande rede de varejo de criar um programa de trainees de liderança exclusivo para candidatos negros e pardos tem sido denunciada como “prática racista”. Trata-se de uma acusação que foi além das redes sociais e foi encampada por algumas autoridades públicas, inclusive na área do direito.
Contudo, o argumento do “racismo reverso” dificilmente se mantém de pé diante de alguns dados oficiais sobre educação e renda. Apesar de representarem mais de 56% da população brasileira, somente em 2018 esse grupo étnico conseguiu chegar a 50% do número de alunos em universidades públicas (federais ou estaduais) gratuitas. Em números absolutos, a maior parte deles (2,9 milhões) recorre a instituições de ensino privadas, pagas, nas quais representam apenas quatro em cada dez matriculados.
O caminho até o nível superior é acidentado. Em média, negros e pardos passam somente 8,4 anos nas escola, quase dois anos a menos que os estudantes brancos. Trata-se de uma diferença que não reflete o esforço de cada um, mas a pressão econômica desigual de acordo com o grupo étnico. Em agosto, o IBGE contabilizou a existência de 13 milhões de desempregados no Brasil, sendo que seis em cada dez eram negros ou pardos. Raramente uma família consegue manter os filhos no banco da escola quando o foco é descobrir como colocar comida na mesa.
Entretanto, mesmo os que conseguem atravessar esse funil enfrentam condições desiguais. Também de acordo com o IBGE, em média, brancos recebem salários 73% maiores que negros e pardos, cujo salário mal supera R$ 22 por hora em ocupações de nível superior.
Iniciativas que busquem corrigir essa distorção dificilmente podem ser qualificadas como racismo. O termo mais exato é equidade social.