Nunca foi tão caro sobreviver. A prévia da inflação de outubro, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é a maior em 25 anos para o mês, e a principal razão é a disparada dos preços dos alimentos. A alta do custo de vida em Belo Horizonte (1,05%), além de estar acima da média nacional (0,94%), é um dos quatro maiores entre as capitais brasileiras.
É verdade que há pressões sazonais da safra agrícola e cambiais sobre o preço dos produtos alimentícios, mas também existe um nada desprezível componente de abuso nesse movimento dentro do contexto da pandemia. No caso da capital mineira, a alimentação em casa subiu 4,1%, o gás de cozinha, 2,7%, e os consertos e manutenções no lar, 1,54% – todos gastos exclusivamente domésticos.
A exploração fica mais explícita quando se relacionam os dados do IPCA-15 com os da Pnad Covid, também divulgados ontem pelo IBGE. Atualmente, 56% dos brasileiros – mais de 110 milhões de homens, mulheres e crianças – dependem basicamente dos recursos de que dispõem em casa. São aquelas pessoas que permanecem em seus lares ou saem apenas para realizar atividades extremamente necessárias, cumprindo o isolamento para se proteger de uma doença que já matou mais de 155 mil pessoas e para a qual ainda não há cura.
Para os especuladores, é como pescar em um balde. Não há livre concorrência ou condições de justiça econômica para os consumidores que não têm alternativa a não ser adquirir os produtos ou passar necessidade dentro de casa. Para os exploradores da fragilidade alheia, ou se aplica a justiça, com rigor e presteza, ou a sociedade e a economia ficarão reféns de um inflação alavancada pelo oportunismo.