O processo de interiorização da pandemia acende um alerta nas autoridades de saúde. Na semana passada, o ministro interino da Saúde, Eduardo Panzuello, afirmou que se trata de um movimento inevitável. A Covid-19 avança a um ritmo de 630 novas cidades com casos confirmados a cada dez dias. Além disso, mais de 3.500 dos 5.570 municípios brasileiros já possuem pelo menos uma pessoa infectada pelo vírus.
Trata-se de uma tendência que expõe a desigualdade estrutural de recursos no país. No geral, o Brasil possui 2,3 leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para cada 10 mil habitantes, cumprindo a determinação da Organização Mundial da Saúde. Contudo, ao olhar de perto os dados do Sistema de Apoio e Gestão Estatística do Ministério da Saúde, constata-se que 80% das 450 regiões sanitárias não chegam perto de atingir esse índice.
A concentração de leitos nos grandes centros cria verdadeiros “desertos de UTIs”, onde o atendimento para procedimentos de grande complexidade depende de um transporte nem sempre acessível por estradas de qualidade duvidosa, para se dizer o mínimo.
Os dados oficiais apontam a existência de 2.669 leitos de UTI em Minas Gerais, sendo 939 na capital. Mais da metade desse recurso indispensável está concentrado em apenas dez dos 853 municípios mineiros, e, segundo um estudo do Instituto Federal de Minas Gerais, nove em cada dez cidades não possuem sequer um leito de UTI.
Não é preciso esforço para concluir que essa discrepância resultará em uma pressão sobre os serviços médicos nos grandes centros e, principalmente, no adoecimento de milhares de habitantes das pequenas localidades que, devido a décadas de políticas públicas equivocadas, não dispõem de recursos para enfrentar os desafios da pandemia.