EDITORIAL

Talento ilimitado

Maradona deixou de viver na Terra para assumir a imortalidade dos que não se conformam com limites


Publicado em 26 de novembro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Em uma tarde de junho, Diego Maradona, com seu 1,55m, deu um salto diante de 110 mil torcedores no estádio Azteca e estendeu a mão em direção à divindade. Sua vida foi polêmica e espetacular como aquele gol sobre a Inglaterra, “vingando” na Copa do Mundo de 1986 a derrota sofrida pela Argentina quatro anos antes na Guerra das Malvinas e lavando a alma de um povo castigado pela crise econômica e pelas feridas de uma cruenta ditadura militar.

A genialidade de Maradona dentro das quatro linhas foi inquestionável, mas estes nunca foram seus limites. O epíteto de “ídolo do esporte” é incapaz de definir o homem que, quando criança, encantava nas peladas em favelas dos arredores de Buenos Aires e, adulto, partilhava charutos e bravatas com o cubano Fidel Castro, o venezuelano Hugo Chávez e o argentino Carlos Menem.

Não fugiu do confronto dentro e fora de campo. Foi um crítico incessante do poder exercido sobre os atletas pela Fifa e por dirigentes que, posteriormente, foram engolfados por escândalos de corrupção. Em meio à invasão do Iraque pelos EUA, chamou o então presidente George W. Bush de “assassino” e liderou protestos.

Seu carisma ignorou fronteiras. Na Copa da Itália, em 1990, fez moradores de Nápoles, cidade onde jogou, torcerem contra a seleção da casa no 1 a 1 com a Argentina. E, apesar de ter uma “igreja” que professa a santidade de seus atos nos gramados, naquele mesmo torneio mostrou o lado perverso de sua humanidade ao dar “água batizada” com tranquilizantes para Branco para assegurar a vitória sobre o Brasil. 

Uma cirurgia no cérebro no início do mês mostrou que há fatos que não podem ser driblados. E, ontem, Maradona deixou de viver na Terra para assumir de vez a imortalidade destinada àqueles que não se conformam com limites.

 

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