Quando se fala em jovem e emprego, a associação com a geração “nem-nem” é a mais frequente – e feita com uma seriedade menor do que o problema exige. A atual situação econômica do país, contudo, revela uma faceta ainda mais complexa e com implicações para a sustentabilidade do desenvolvimento: o crescimento dos jovens que estudam e se veem forçados a antecipar a entrada no mercado de trabalho.
Em todo o país, 48,3% dos universitários entre 19 e 24 anos estavam empregados. Isso significa um contingente de 2,6 milhões de trabalhadores – 144 mil a mais do que no último levantamento, feito em 2016.
É digno de louvor o esforço de buscar autonomia e experiência, mas não são esses os motores principais do fenômeno.
Na última década, o número de vagas em universidades públicas praticamente estagnou, e hoje elas respondem por só uma em cada quatro matrículas.
Com preços de mensalidades em alta e dúvidas sobre o sistema oficial de crédito estudantil – cujo Orçamento encolheu R$ 2 bilhões no último ano –, 58,3% dos alunos das instituições privadas têm que trabalhar para pagar os estudos, segundo a consultoria IDados.
Além disso, um mercado ultracompetitivo, com 5,79 milhões de desempregados entre 19 e 29 anos, põe o jovem diante de um falso dilema entre experiência e conhecimento e que resulta em um achatamento da massa salarial como um todo, uma vez que se veem sujeitos a ocupar as vagas menos qualificadas ou com remuneração mais baixa.
Privados do tempo e da dedicação necessárias à formação acadêmica, esses jovens acabam perpetuando um ciclo perverso em que a qualificação deficiente reduz a rentabilidade e a competitividade do grosso dos profissionais brasileiros e a capacidade de o país gerar novos empregos.