A imprensa livre é uma das fundações da democracia liberal. Como tal, tem o dever de levar aos cidadãos informações que os capacitem a exercer plenamente seus direitos e se fazerem representar na arena política. Por isso, a violência desferida contra seus representantes e veículos é um ataque direto à estabilidade democrática e um cerceamento à participação política e à plena cidadania.
Como qualquer instituição, a imprensa não é imune às falhas, e existem mecanismos profissionais e legais para que elas sejam corrigidas. Mas não há argumento ou situação que justifique a atual escalada de ameaças, coação e agressões – nem mesmo a incerteza e o medo de um ambiente de pandemia e de crises política e econômica.
Neste mês, um cinegrafista levou chutes e socos em Barbacena enquanto trabalhava, e, em Brasília, uma jornalista foi golpeada com o mastro de uma bandeira enquanto se preparava para entrar no ar. A animosidade e as ofensas de grupos ganharam tal vulto que três veículos anunciaram a suspensão da cobertura jornalística na porta do Palácio do Planalto até que haja garantia de segurança física de seus profissionais.
Por sua obrigação de lançar luz sobre os atos dos Três Poderes e sobre as desigualdades, o jornalismo profissional historicamente tem sido alvo de insatisfeitos da esquerda e da direita, bem como de variados interesses econômicos. Somente no ano passado, foram 17 registros de atos violentos por mês e sete mensagens de ódio a cada minuto nas redes sociais.
O que este movimento violento não percebe é que, ao cercear a voz do jornalismo livre, está corroendo justamente o instrumento essencial para libertá-lo da mudez e da mordaça quando a injustiça se virar contra seus direitos – e a história mostra que essa guinada é rápida e implacável.