À medida que se aproxima do pico previsto da pandemia no país, o número oficial de óbitos por Covid-19 rompe recordes dia após dia. Somente no boletim de ontem, foram 51 novas mortes em Minas Gerais. E dois fatores acirram o temor de que o mal pode ser ainda maior: a subnotificação dos casos e a imprudência de parte da população.
Minas hoje é o Estado que realiza menos testes em todo o país. Os 155 exames a cada 100 mil habitantes representam menos da metade do segundo pior Estado no ranking. Um número significativo de assintomáticos acaba escapando do radar dos serviços médicos. O próprio serviço de vigilância em saúde do Estado havia alertado em fins de março que o número de casos poderia ser até dez vezes maior do que o registrado por causa da subnotificação.
Medidas para ampliar o alcance da testagem estão em curso. O governo federal trabalha com uma nova meta: a de que um quarto da população brasileira seja examinada.
Sem conhecimento da real situação, uma parcela nada desprezível da população ignora também os cuidados mínimos para impedir a circulação do vírus. O uso da máscara e o cuidado para evitar aglomerações têm sido negligenciados, como mostraram as imagens de feira livre e pistas de corrida na capital no fim de semana.
Ainda que os 90 dias de quarentena tenham provocado um cansaço inegável, o fato de que 90% dos leitos de UTI do SUS já estão ocupados mostra que essa imprudência terá um custo inaceitável caso prossiga. No momento em que o contágio acelera, não ser capaz de enxergar a real situação da pandemia é um perigo mortal, seja na falta de testes pelo poder público, seja no comportamento imprudente da sociedade.