Coluna Esportivamente

De saída do Minas, Deja entregou o que tinha, mas não foi suficiente

Oportunidade de mercado foi aproveitada pelo clube, que rescindiu contrato com uma das jogadoras mais carismáticas que tive a chance de entrevistar nos últimos anos

Por Daniel Ottoni
Publicado em 20 de janeiro de 2020 | 07:00
 
 
 
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Deja McClendon, certamente, é uma das jogadoras mais carismáticas e simpáticas que já entrevistei. Logo no primeiro contato, ela se mostrou atenciosa e com um sorriso especial no rosto. Falou abertamente sobre o problema de saúde que a fez perder o cabelo e a escolha por ser careca. Foi madura para encarar o caso de racismo que sofreu e não se abateu com um episódio que ninguém merece. 

Mas suas atuações dentro de quadra defendendo o Itambé Minas não convenceram. Fiquei triste, admito que torcia para ela ir bem, mas seu desempenho ficou abaixo do esperado. Com dificuldade nas viradas de bola e sem regularidade no passe, ela acabou perdendo espaço dentro do time titular comandado pelo técnico italiano Nicola Negro. 

A informação de sua dispensa pelo clube, com o returno da Superliga feminina apenas se iniciante, pegou muita gente de surpresa. Muitas críticas vieram da torcida, mas é preciso pensar com a cabeça de um diretor para tentar entender, pelo menos um pouco, a decisão. Creio que tenha sido uma oportunidade de mercado para o Minas. Já vimos outras jogadoras do clube renderem até abaixo do que Deja apresentou, mas nem sempre uma peça de reposição, naquele exato momento, mostrava-se disponível.

A búlgara Dobriana Rabadzhieva estava livre após o fim do campeonato chinês e seria necessária uma substituição com Deja 'pagando o pato'. Imagino que o nível técnico apresentado pesou para que a decisão fosse tomada pela diretoria e comissão, mesmo com o técnico Nicola Negro dizendo que não. 

Deja teve seu melhor momento na disputa do quinto lugar do Mundial, quando saiu de quadra, na vitória sobre o Dentil Praia Clube, com o prêmio de melhor jogadora. Infelizmente, foi pouco para que ela permanecesse. Acho que seu rendimento não mudaria muito em um futuro breve, era preciso mais para ajudar o Minas. 

É preciso reforçar que boa parte do erro deve cair na conta do clube, responsável por sua contratação. Trocando a roda com o carro andando, o Minas tenta suprir uma carência na sua virada de bola. A parte ofensiva tem funcionado melhor pelo meio-de-rede, com as extremidades ainda devendo. Apesar da búlgara não ter o passe como melhor fundamento, seus ataques em bolas altas pela ponta podem compensar e trazer um melhor resultado para o clube. 

Desejo a Deja todo o sucesso e felicidade do mundo, ela mostrou ser uma atleta diferenciada pela forma como trata as pessoas. Pode parecer algo simples, mas é muito mais do que pode imaginar. Não foi à toa que teve todo o carinho da torcida e 'caiu nas graças', mesmo devendo na bola. Ela teve o devido reconhecimento e sai de cabeça erguida de Belo Horizonte. Uma pena quando uma atleta que mostra ser uma pessoa tão especial não joga tão bem quanto gostaríamos, mas o esporte de alto rendimento exige retorno a todo momento. O Minas preferiu não perder mais tempo, por mais dolorosa que fosse a escolha. 
 

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