CAROL RACHE

De onde nascem os burnouts?

'A novidade agora é que o tipo de sucesso almejado traz a necessidade de atualização constante'

Por Carol Rache
Publicado em 08 de outubro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Burnout. Este é o nome chique para classificar o esgotamento advindo das atividades profissionais. Síndrome comum, nos dias atuais, em que cada vez mais se associa o valor das pessoas ao que elas conseguem produzir.
 
Mas o que leva um humano a se portar como máquina? O que leva alguém a querer produzir mais do que o seu combustível permite? De onde, afinal, nascem os burnouts?
 
É inquestionável a sede das pessoas em se tornarem cases de sucesso. Nós nos despedimos da geração Coca-Cola e nos deparamos com a geração startup. Se antes os jovens sonhavam em ser rock stars, hoje se ocupam de imaginar-se como protagonistas de um IPO.
 
Buscar sucesso para preencher a lacuna interna da autoestima não é um movimento novo. A novidade agora é que o tipo de sucesso almejado traz a necessidade de atualização constante. E se manter atualizado na era digital não é tarefa simples.
 
Lulu Santos já dizia que “tudo muda o tempo todo no mundo”. Mas proferiu essas palavras em melodia calma, leve, serena. Num ritmo que destoa da velocidade na qual as mudanças se materializam atualmente. Se a melodia fosse atual, para ser realista, precisaria ser acelerada na velocidade 2 do WhatsApp.
 
Se até as conversas pessoais hoje vêm em velocidade dobrada, como não sermos seduzidos pela pressa que nos envolve? Se analisarmos friamente, esgotamento parece ser o único destino possível daqueles que nutrem a intenção de serem produtivos. 
 
Mas não é.
 
A verdade é que, se ligarmos o piloto automático, o convite para viver a vida na mesma rapidez dos áudios de WhatsApp vence. É fácil, sim, tropeçar em urgências que não são urgentes e nos tornarmos mais ocupados do que precisamos ser.
 
Glorificamos tanto o trabalho que, num deslize, invertemos as prioridades e começamos a crer que estar sempre sem tempo é nobre. Mas a verdade é que estar ocupado não é sinônimo de produtividade. A objetividade e assertividade nos fazem produtivos. A ansiedade e a pressa nos tornam ocupados. E uma das formas mais comuns de procrastinação é manter-se ocupado daquilo que não é de fato importante, enquanto as prioridades se perdem no caos de um dia acelerado.
 
Burnouts nascem do automatismo. É da falta de respiro que surgem os esgotamentos. Da falta de hábitos que qualifiquem a energia que nos habita. Da displicência com nossa saúde física e emocional. Da falta de clareza sobre os nossos limites. Da falta de disciplina que nos faz perder o sono pensando onde vamos aplicar nosso dinheiro sem considerar que nosso recurso mais precioso é aquele que não poderá ser recuperado por fundo ou empresa nenhuma: o tempo.

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