Flávio Saliba

Globalização e autoritarismo político

Desigualdades internas e externas e extremismo


Publicado em 12 de junho de 2020 | 03:00
 
 
 
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A história do processo de globalização vem sendo narrada desde a emergência do fenômeno em meados da década de 1970. Entre seus observadores pioneiros destaca-se Manuel Castells com seus estudos sobre os impactos das novas tecnologias e da nova divisão internacional do trabalho sobre a vida social.

Um pouco mais tarde, motivado, talvez, pelos impactos geopolíticos desse fenômeno, Samuel Huntington publica o seu “O Choque de Civilizações”, no qual aborda os contornos da nova ordem mundial. 

Trata-se de estudos complementares na medida em que descrevem os mecanismos estruturais da dinâmica político-ideológica e social das distintas formações nacionais.

Para Castells, o novo cenário mundial seria marcado pela acentuação das desigualdades internas e externas entre as nações, na medida em que as novas tecnologias informacionais deslocam o eixo da produção material para a produção de conhecimento. Nesse caso, levam vantagem as nações avançadas, mesmo que, internamente, se ampliem as desigualdades entre trabalhadores qualificados e não qualificados.

Por sua vez, as nações dependentes da exportação de algumas poucas matérias-primas tenderiam a mergulhar no “Quarto Mundo” na medida em que se inserem desvantajosamente na nova divisão internacional do trabalho como exportadoras de produtos primários de baixo valor no mercado internacional e importadoras de produtos de alto valor agregado.

É nesse contexto de desemprego e desigualdades sociais que as nações do Terceiro ou “Quarto Mundo” procuram se inserir na economia mundial por meio de todo tipo de atividades ilegais, como o tráfico de armas e drogas.

O resultado é a ampliação da violência individual e coletiva pela fácil associação entre extremismos de esquerda e de direita ao tráfico, às guerras semirreligiosas, à proliferação de milícias armadas e virtuais ao terrorismo. Não à toa, Samuel Huntington se indaga se países como o Brasil fariam parte integral da civilização ocidental.

A crítica à globalização é, hoje, uma das bandeiras de correntes mais extremadas da direita, seja devido à pregação isolacionista de Donald Trump, seja devido à visão conspiratória de que os males do mundo decorrem da orquestrada façanha do comunismo internacional.

Orquestrada ou não, a globalização favoreceu sobretudo a China, cujo crescimento econômico de dois dígitos nas últimas décadas a transformou na segunda maior potência econômica mundial, trazendo de volta a Guerra Fria e a disputa entre o autoritarismo de esquerda chinês e o autoritarismo de direita de Donald Trump com sérios riscos à paz mundial.

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