O Atlético saiu do lugar comum ao contratar o técnico Rafael Dudamel. Nos últimos anos, não só o Galo como outros grandes clubes brasileiros seguiram a ultrapassada cartilha de recorrer a treinadores que pouco trouxeram novidades nos últimos anos. O ciclo vicioso parecia uma velha vitrola arranhada e vira e mexe técnicos como Abel Braga, Oswaldo de Oliveira, Dorival Júnior e Levir Culpi eram anunciados, apagavam incêndios pontuais e depois, sem conseguir manter o pique inicial, eram demitidos antes do término de seus contratos. Trazer alguém de fora dessa turma é um ponto positivo.
O futebol brasileiro passa por um período de pouca novidade entre os treinadores, no que diz respeito às inovações táticas. As chegadas de Jorge Jesus ao Flamengo e de Jorge Sampaoli ao Santos, ambos com mentalidade proativa e com um padrão de jogo que, com justiça, colocou as duas equipes nas duas primeiras colocações do Brasileirão, parece ter ligado um sinal de alerta. O estilo reativo e pouco criativo passou, enfim, a ser questionado.
Dudamel tem um trabalho interessante na base da seleção da Venezuela e, com a equipe principal de seu país, ajudou a diminuir um pouco o eterno vácuo entre os venezuelanos e as demais seleções sul-americanas. Por outro lado, teve pouco tempo no comando de clubes.
No mundo ideal, Dudamel deveria cumprir ao menos seus dois anos iniciais de contrato. Para isso, a torcida precisa ter paciência e o clube precisa dar ao treinador tempo para ele desenvolver seu trabalho. Pega um elenco em transição e em formação, com alguns jogadores já na fase final de suas carreiras e tem a primeira experiência fora de seu país. Implantar uma filosofia de jogo não é algo para dois ou três meses. Assim como rejuvenescer o elenco. Os jovens que ele pretende aproveitar precisam de fazer a transição com muita tranquilidade.
Nos últimos anos virou um lugar comum o Atlético ter ao menos dois treinadores por temporada. Isso dificulta demais para o padrão de jogo ser estabelecido e jogadores sentem as mudanças. O último ano em que o Galo teve o mesmo técnico do início ao fim da temporada foi em 2013, com Cuca. De lá para cá, as mudanças não foram apenas nos nomes, mas também no padrão e no estilo de jogo. Imagine um jogador como Cazares, um inegável talento, mas que foi dirigido no Atlético por treinadores com concepções táticas bem diferentes, como Diego Aguirre, Marcelo Oliveira, Roger Machado, Oswaldo de Oliveira e Levir Culpi. Qualquer adaptação nesse sentido também fica prejudicada - não só para um jogador vindo do exterior, caso do Cazares, como para garotos que vão subir para o profissional.
Com tempo, padrão de jogo estabelecido, paciência e sem pressão para resultados imediatos, como, por exemplo, no Campeonato Mineiro, Dudamel poderá provar se foi uma aposta acertada ou não. Que deixem o venezuelano trabalhar.