Vou direto ao ponto: Messi é um gênio, acima de qualquer contestação sobre sua carreira e suas conquistas. Ele faz tantas coisas espetaculares que, quando faz uma temporada um pouco abaixo de sua média avassaladora, parece que foi mal. Assim foi seu desempenho em 2018/19, quando fez apenas 51 gols em 50 jogos oficiais e levou o Barcelona ao título espanhol. Nos acostumamos a ver esses números incríveis e vamos sentir saudades quando o baixinho argentino se aposentar. 

Mas, ainda assim, nessa temporada específica, e guardadas todas as proporções, o zagueiro holandês Van Dijk foi um monstro. Analisando o que ele poderia fazer, sua posição e as competições que disputa, não tenho dúvida: ele merecia o prêmio de melhor do mundo da Fifa, a mesma que premiou na temporada passada o croata Modric, importante para seu país na Copa do Mundo, mas distante de uma regularidade que, na minha opinião, tornasse justa a premiação. O prêmio ficou em ótimas mãos, mas merecia estar na galeria do zagueiro do Liverpool.

Van Dijk fez uma Premier League irretocável, passando vários jogos sem sequer ser driblado. Terminar esse campeonato - no qual a distância entre os pequenos e os grandes é menor e que também é marcado por mais equipes de nível semelhante brigando lá em cima - com um feito desses e apenas uma derrota, é uma marca considerável para um zagueiro. O Liverpool não foi campeão inglês? Não, mas venceu a Champions League. Com direito a uma classificação heroica e histórica diante do Barcelona, de Messi. Para mim, uma partida decisiva para definir a entrega do troféu para Van Dijk.

A eleição do melhor do mundo da Fifa segue critérios que ajudam aqueles que têm uma exposição maior. E, nesse quesito, não dá para comparar Messi e Van Dijk. Representantes de vários países que ainda engatinham no esporte estão mais propensos a votar no argentino - ou no português Cristiano Ronaldo, que fez uma temporada também espetacular na Juventus e levou seu país ao título da Liga das Nações. Além disso, um fazedor de gols sempre vai ter mais holofotes virados para ele do que um zagueiro, por mais importante que ele tenha sido para seu clube ou seleção. Veladamente, a turma fecha os olhos para quem joga lá atrás, na “cozinha”. 

Van Dijk merecia o prêmio, na minha opinião. Assim como Sérgio Ramos, Marcelo e Modric poderiam ser substituídos na seleção da temporada, na qual o Real Madrid foi bem abaixo da média. Fechar essa seleção sem Mané ou Salah, por exemplo, pareceu absurdo. Mas tudo isso entra no mesmo pacote de exposição dos gigantes espanhóis. 

Eleições e rankings estão sujeitos a isso, a serem contestados ou criticados - ou até mesmo aplaudidos e elogiados, especialmente quando tratamos de unanimidades. Desta vez, porém, não teve. 

P.S.: A premiação tem nomes incontestáveis. Fica aqui meus aplausos para Klopp, Alisson, Rapinoe e Sílvia, a mãe palmeirense do Nikollas, que tanto nos ensinou sobre a paixão pelo esporte.