“Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, tampouco o homem”. Nada mais adequado do que essa lição de Heráclito de Éfeso (535 a. C. a 475 a. C.) para lembrar ao candidato do PT, Fernando Haddad, que os bons tempos de Lula não voltarão. A felicidade que promete não passa de quimera.
O país ainda sofre os efeitos da maior recessão econômica de sua história. No desgoverno Dilma, o desemprego subiu a 11,5% (12,3 milhões de pessoas), a inflação saltou de 5,90% para 9,28%, o PIB teve uma queda de 7,53% ao ano para uma retração de 3,90%, a dívida interna aumentou mais de 70%, e algumas das maiores empresas perderam valor, como a Vale (– 63,45% no valor da ação) e a Petrobras (–55,85%).
Em vez de garantir um Brasil “feliz de novo”, ele deveria dizer, caso eleito, como governaria um país dividido entre “nós e eles”, o PT com seus mocinhos e os adversários com os bandidos. A ala que prega essa dualidade é majoritária e quer dar o troco nos “golpistas” que aprovaram o impeachment de Dilma.
De sua parte, o capitão Jair Bolsonaro (PSL) deveria mostrar como governaria um país rachado à sombra de uma identidade impregnada de conservadorismo e manifestações de racismo e homofobia. Mais: que papel as Forças Armadas terão em seu governo, sabendo-se de sua defesa dos anos de chumbo.
Sob essa sombria teia, a ingovernabilidade ameaça o próximo governo, seja qual for o vitorioso. O Brasil é muito diferente do governado por Lula, enquanto as condições internacionais também mudaram. A governabilidade de uma nação é resultante ainda da geopolítica mundial nesse ciclo de batalhas comerciais e protecionismo.
Se o PT voltar ao poder, com Haddad, abrirá largas fissuras em suas alas, a partir de seu “núcleo duro”, presidido por Gleisi Hoffmann, defensora do indulto a Lula. O próprio poderá não desejar o perdão presidencial, mas continuará a ditar as cartas no petismo. A ala que prega mudanças insistirá na renovação, visualizando o traçado pós-Lula.
Não será fácil ao PT passar uma borracha na administração anterior. Exemplo: revogar a reforma trabalhista exigirá intensa articulação no Congresso e concessões amplas aos parlamentares. Que cobrarão nacos de poder na esteira de seu pragmatismo.
Já o capitão Bolsonaro, cujo porte é bem menor do que exige a nona economia do mundo, teria de fazer intensa articulação para negociar na Câmara, onde passou anos no “baixo clero”, e junto ao Senado. Seu guru na economia, Paulo Guedes, abençoado pelo mercado, enfrentaria resistências para aplicar sua visão ultraliberal (“privatiza tudo”), devendo se submeter às correntes progressistas.
Mais feia será a paisagem social, com bolsonarianos e petistas em confronto, que poderão deixar rastros de sangue nas ruas. O apaziguamento social só ocorreria com a volta do emprego e melhoria do bem-estar social, coisa que demora. O desafio maior de Haddad ou Bolsonaro será o de colar os cacos de um país conflagrado por bílis, ódio e desejo de vingança.
Ingovernabilidade à vista
Desafio de Haddad ou Bolsonaro será colar os cacos do país
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