GILDA DE CASTRO

Vestibular e formatura, situações difíceis para as famílias

As alegrias e frustrações dos jovens brasileiros neste período


Publicado em 04 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Muitas famílias brasileiras vivem, neste período, alegrias ou frustrações, porque os jovens estão lutando por uma vaga na universidade ou finalizando seus cursos, enquanto procuram emprego para obter autonomia financeira.

Todos reconhecem que a qualificação superior permite a adequada inserção na sociedade contemporânea. Almejam o ingresso em universidade pública, que é gratuita e mais valorizada no mercado de trabalho, mas ela tem sido difamada quanto ao engajamento político e às atitudes irreverentes de estudantes, embora sejam minoria em relação aos que se empenham muito, com pouquíssimo dinheiro. Os jovens sofrem se não ingressam ali, mas não desistem enquanto não esgotam outras possibilidades de matrícula, mesmo que sejam em outro país.

Descobrem que é um tempo difícil, porque o júbilo pode misturar-se ao desencanto, passando por provações muito dolorosas, especialmente nas grandes instituições, que são complexas, diversificadas e aparentemente hostis. Sofrem tremendo impacto desde o clima de disputa acirrada com colegas até a pressão emocional relacionada ao medo de decepcionar a família com seu fracasso. Procuram, às vezes, evitar o malogro, inscrevendo-se em cursos menos concorridos e definindo um futuro diferente do que sonharam na infância.

Se a reprovação no vestibular é encarada como derrota insuportável, a matrícula inicial leva a outro sofrimento. Há uma transição cruel, materializada no trote, porque os veteranos querem demonstrar seu desprezo pela ignorância do calouro e registrar sua entrada triunfal no templo do saber. Surgem, depois, as dificuldades para integrar-se a um cotidiano pesado, diante da preparação insuficiente na escola básica e das carências da universidade: professores desmotivados, laboratórios precários, bibliotecas desatualizadas e insatisfatório conteúdo programático. Muitos sentem que fizeram escolha equivocada e que não serão bons profissionais.

A formatura é outro momento crítico, em que o jovem está deixando seu status de estudante, alterando novamente sua condição social. Somam-se a despedida da universidade e a admissão ao universo profissional com suas exigências de conhecimento, produção e disciplina de trabalho. Ela deveria ser solene, pois os especialistas da área, representados pelos professores, estão admitindo os formandos como seus pares, conferindo-lhes o direito à atividade de alto nível diante da sociedade e do Estado, embora o diploma universitário não garanta mais um futuro promissor.

Talvez esteja aí a causa da atual irreverência nas cerimônias de colação de grau, como se elas fossem rituais de rebelião a um modelo absurdo. Afinal, os estudantes esforçaram-se para fazer um curso superior, mas encontraram uma universidade que vive em crise sem fim, porque as escolas públicas não têm verbas suficientes para adequado funcionamento, e, geralmente, as particulares não alcançam excelência diante da impossibilidade de cobrir todos os custos de ensino, pesquisa e extensão apenas com mensalidades dos alunos.

Reconhecendo que as universidades precisam do apoio da sociedade, muitos norte-americanos destinam-lhes parte de seu patrimônio para custear bolsa de estudo e financiar a produção de conhecimento. A elite brasileira nunca cogita dessa possibilidade; alguns preferem deixar sua herança para um clube de futebol a ofertá-la para a instituição onde estudaram e trabalharam, perpetuando o desapreço pela escola.

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