Não tenho como negar: falo muito.
Falo porque gosto de interagir, assim como gosto de ouvir o que o outro tem a dizer.
Adoro sair dando bom-dia e boa-tarde, nem sempre correspondidos. Sem problema, dou assim mesmo, com o sorriso sincero de quem realmente espera um dia bom para todos.
Falo isso porque, no meio de uma fila quilométrica, sem ter o que fazer, puxo assunto com o vizinho de espera. Assim o tempo passa mais rápido.
Falo abobrinhas, quando estou sem inspiração ou com preguiça para assuntos sérios.
Obviamente, também falo de assuntos sérios.
Falo sozinha, quando penso alto e nem me dou conta da maluquice.
Falo o que os outros querem ou merecem ouvir, geralmente palavras positivas.
Às vezes falo algum palavrão, resquício de uma juventude intensamente vivida nas arquibancadas do Mineirão.
Falo porque sou mulher, e nós, mulheres, temos uma fonte inesgotável de assuntos. Adoramos falar de nossos sentimentos, de nossos filhos, da família, do trabalho, do cachorro, do seriado, do novo antiestria, antirruga e “anti-tudo” que lançaram no mercado e mais um bocado de coisas. Também compartilhamos segredos e aflições. Quando digo segredos, refiro-me aos nossos, não aos dos outros; isso aí já não é conversa, é fofoca. E, nesse caso, estou fora!
Segundo o palestrante Daniel Godri, o homem, para falar, tem um cantinho do lado esquerdo do cérebro, e a mulher, não, ela pode usar o lado esquerdo todo e, se bobear, ainda usa o direito.
Dizem que mulheres falam em média 7.000 palavras por dia, os homens, 4.000. Uma amiga reclama que, ao voltar do trabalho, mesmo cansada, quer conversar, e o seu companheiro nem sempre está disposto a ouvir. Ele querendo silêncio, e ela lá, empolgadíssima, com suas 3.000 palavras a mais pra gastar.
E a mulher apaixonada? Socorro!!! Nem 10 mil palavras satisfazem a sua necessidade insana de falar, quase exclusivamente sobre ele: “Aquela coisa fenomenal, linda, maravilhosa, perfeita, inteligente”.
Nessas horas não temos muito o que dizer, só escutar, nem que seja 157 vezes, a mesma história, até porque mulheres apaixonadas não nos dão trégua, tamanha a intensidade com que expressam seus sentimentos.
Sabe aquela frase “Se for dirigir, não beba”? Pois é, se estiver apaixonada e não for correspondida, também não! Porque a possibilidade de fazer e falar besteiras é enorme. Mas deixa pra lá, faz parte. Afinal, qual a mulher que nessas circunstâncias nunca se excedeu e falou o que não devia?
Enfim, comunicação para nós, mulheres, nunca foi problema.
Certa vez, na sala de espera de um grande hospital em São Paulo, Vittorio foi chamado para os exames, deixando-me com duas senhoras e um senhor doente no recinto. Quase simultaneamente, o homem também foi chamado.
Claro; em cinco segundos, já trocávamos figurinhas.
– É seu marido? O que ele teve?
Falo do transplante feito e dos exames de rotina. Em questão de minutos já éramos “amigas íntimas”.
Trinta e cinco minutos depois, na cantina do hospital, conto para o meu marido o caso das duas senhoras com o velho doente. A senhora de verde era a ex-esposa, a de azul, a segunda e atual. E, no meio de ambas, “surge” uma terceira: “moça nova, interesseira, sem escrúpulos e sem-vergonha”. Segundo elas, a mulher vinha tomando todo o dinheiro do homem, que, como eu percebi, já não batia bem da bola.
Queriam saber minha opinião: como impedir que o marido, idoso, desse dinheiro pra safada, sem-vergonha e rameira que não largava do seu pé?
Impressionadíssimo, Vittorio me interrompeu:
– Laura, como é que vocês, mulheres, conversam sobre tudo, inclusive sobre a vida pessoal e em tão pouco tempo? Você nunca viu elas na vida... Como assim???
Pois é, respondi rindo. Nem tentei explicar, já que, definitivamente, eles, os homens, não entendem mesmo.