Tudo começou após uma simples confusão com horários. O que era para ser dez da manhã foi compreendido como dez da noite.
Mãe e filha estavam no salão, uma com tinta no cabelo e a outra com cera nas pernas, quando, em meio a cremes, escovas, esmaltes e secadores, surge o pai, aflitíssimo, intimando-as a sair naquele exatíssimo momento.
– Rápido, não temos tempo a perder!
– Como assim? O que você está fazendo aqui?
– O que eu estou fazendo aqui? Sabia que o avião de vocês está saindo agora? Me ligaram do aeroporto e estão aguardando só vocês... Me deram 30 minutos! Trinta minutos! Sabem o que é isso???
– O quê? Deve estar havendo algum engano... Nossa viagem é à noite... – dizia a mulher, ainda sem se dar conta da situação.
– Olha aqui, gente, sinto muito, mas vão ter que sair agora, já peguei os dólares e os passaportes...
– Eu não vou! – resmungava a filha, pulando da mesa da depilação. – Sem minhas coisas eu não vou!
– Vai, sim! – gritou o pai. – Se não forem AGORA, perdem o voo. E com avião fretado não há reembolso.
– Mas... mas...
Bem, nem é preciso dizer que a viagem para a Disney, presente de 15 anos para a menina, acabou tornando-se um drama familiar. Com a roupa do corpo, restos de tinta no cabelo e cera depilatória na perna, mãe e filha saíram às pressas.
Chegaram daquele jeito ao aeroporto, onde os passageiros já aguardavam dentro do avião. E, como se não bastasse o drama, ainda tiveram que enfrentar a cara de indignação daqueles que, impacientes, tiveram que esperar pela dupla. Indignação logo substituída pela piedade, pudera! Como viajar naquelas condições? Sem malas, sapatos, roupas, maquiagem, sutiãs, calcinhas, meias, camisolas, sandálias e toda a parafernália que normalmente acompanha a mulher numa viagem. Pois é, e lá se foram as duas munidas apenas de documentos e um bocado de dólares que, com certeza, seriam gastos na aquisição de malas, camisas, camisolas, calcinhas... Isso para não dizer do cabeleireiro, já que o cabelo da mãe estava quase virando palha depois de ter sido abandonado no meio de uma rinsagem.
Contaram-me essa história, não sei bem dos detalhes, apenas sei que aconteceu em Belo Horizonte. Não conheço as duas, mas de imediato me solidarizo. Quem é mulher sabe, entende que a ausência de uma mala numa viagem longa é para enlouquecer. Homens não têm capacidade de compreender a extensão do problema, o porquê de malas repletas de roupas e de nécessaires explodindo de xampus, maquiagem, hidratantes, protetor solar, tônicos, adstringentes, creme antirrugas, anticelulite, antiestria, anti-qualquer-coisa que normalmente aparece depois dos “enta”, que costumam fazer parte do arsenal feminino. Pois é, e as duas lá, sem sequer um batonzinho para dar o ar da graça.
Não sei do fim dessa história, mas imagino que tudo se resolveu na loja mais próxima do hotel, com a aquisição de uma calça jeans e algumas camisetas. Na farmácia: escovas de cabelo e de dente, desodorante e protetor solar. O resto das frescuras femininas deve ter ficado para depois – possivelmente, pós-regresso.
Digo isso por conhecimento de causa, já que em viagens pelo Oriente era obrigada a levar uma mala minúscula, com o básico do básico – no conceito feminino, claro! Aprendi a simplificar e hoje adoro a ideia de viajar “light”.
Mas também não vou dizer que uma mala pequena não deve ser acompanhada por uma bolsa gigante, onde sempre cabe mais um perfume, um creminho, um blush e, o mais importante, um batom para nos deixar mais bonitas, coloridas e até, arrisco-me a dizer, mais alegres!
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- Opinião
- Laura Medioli
- Artigo
Nem mesmo um batonzinho?
Nem é preciso dizer que a viagem para a Disney, presente de 15 anos para a menina, acabou tornando-se um drama familiar
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