Enquanto escrevo, observo minha pit-lata, Vlora, brincando com uma garrafa PET que encontrou por aí. Morde, sacode, joga pro alto, pega de novo, sacode... E eu aqui, me divertindo com a cena. Quanta simplicidade habita em sua cabeça tigrada; quão pouco é necessário para que ela seja feliz. Basta um afago, um olhar carinhoso, que seu rabo começa a girar. Como diz minha amiga: ligou o ventilador!
De vez em quando, aparece com achados estranhos na boca, que só Deus para entender como encontrou, carregou e, pior, conseguiu comer. Foi assim com o melão, descoberto na fruteira e levado, sabe-se lá como, para o gramado. Ao ver aquela bola amarela ser despedaçada, com indizível prazer, pensei: como conseguiu essa façanha? Um melão inteiro? Mistério...
Outro dia foi o queijo parmesão, italiano, caríssimo, de mais de um quilo, presente de um amigo. Não somente pegou o pacote, como o devorou. Já me preparava para uma emergência veterinária quando, após a comilança, a encontrei correndo no gramado junto às companheiras, com uma cara de felicidade que nunca se viu antes.
Complicado foi o bolo de chocolate que, afoitamente, em certo domingo, surrupiou da bancada. Quando percebi, a desgraça já estava completa: três quartos de um bolo devorados às pressas. No momento, nem pensei na bomba de carboidratos, açúcar e gordura trans, mas somente no chocolate. Afinal, desde sempre soube que chocolates podem provocar estragos horríveis no aparelho digestivo canino.
Com isso, quem quase morreu fui eu. Se a Vlora, minha amada pit-lata, morresse por overdose de cacau, jamais me perdoaria. Fiquei observando, preparando-me para uma emergência. Liguei para o veterinário.
– Meu cachorro comeu um bolo!!! De chocolate!!! Sim, é verdade... Coube... Não, não vomitou... Acho que gostou, nem parece estar empanturrada... Sim, aguardo. Tento dar um pouco de água?
A única consequência desse fervor gastronômico é que ela só foi querer saber de ração no dia seguinte. Menos mau, pensei com meus botões, afinal, quem estaria empanturrada seria eu!
Por estar meio “fortinha”, decidi levá-la a uma nutróloga canina, que, dispensando a ração, receitou o que chamamos de “comida natural”: chuchu, abobrinha italiana, abóbora moranga, tudo picadinho, um pouco de carne moída, para dar o ar da graça, e por aí vai. Cozinhar a quantidade certa, para todo o mês, distribuindo as porções em saquinhos, dava um trabalho do cão (literalmente falando!). Ainda não calculei, mas dizem que, além de fazer bem, fica mais em conta que a ração.
Hoje ela está mais contida, a não ser quando, sorrateiramente, investe no prato das companheiras.
Embora tenha emagrecido um pouco, Vlora continua fortinha. Com a quarentena, desisti de dar “comida natural”, optando pela alimentação de sempre. Sem problemas! Para ela, minha amada pit-lata, o importante é mastigar, nem que seja uma velha garrafa PET ou, como ocorre de vez em quando, as almofadas do sofá.
Para mais histórias da Vlora, leia “Só de Bicho: Crônicas Divertidas para Quem Ama os Animais”, de Laura Medioli e Fernando Fabbrini. Os valores obtidos com a venda serão destinados a entidades que trabalham no cuidado, castração e adoção de animais de ruas. Disponível nas Livrarias Leitura, Drogarias Araujo e nas lojas Petz.
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