Iniciamos mais um ciclo, desta vez para a Copa no Catar, em 2022. Após um resultado um tanto quanto frustrante na Rússia, chegou o momento de o técnico Tite dar oportunidade para jogadores que possam estar em um nível superior no Oriente Médio, sempre lembrando que no ano que vem teremos Copa América no Brasil.
Dito isso, a convocação da última sexta-feira nos mostrou claramente o quanto nosso futebol está errado. Desde as escolhas e até mesmo como organizamos as competições. E não podemos deixar de relatar que a CBF comete erros em cima de erros. Dos mais bobos aos mais graves.
Não há mal nenhum em convocar jogadores dos clubes brasileiros. Aliás, isso deveria ser até mais recorrente. Porém, a tal da “Data Fifa”, pela qual sabemos todo o cronograma até a nova década, enfatiza que as ligas domésticas não podem ocorrer nesses dias, além das Copas. Ora bolas, então porque teremos rodadas de Campeonato Brasileiro durante o período? E jogo da Copa do Brasil um dia após o encerramento da semana de amistosos internacionais?
A Fifa separou os dias entre 3 e 11 de setembro para os compromissos de seleções – que abrangem o mundo inteiro –, e teremos duas rodadas do Brasileirão nesse período. Para piorar, o dia 12, a princípio, está guardado para as semifinais da Copa do Brasil. Em resumo: quem no país teve jogadores selecionados pelo técnico canarinho foi prejudicado.
Para se ter uma noção, a Europa e o restante da América do Sul param em razão desses amistosos. De certo, não seria justo para os atletas convocados ficarem fora da lista por conta da nossa má organização. Já falei muito do nosso calendário, mas fica cada vez mais óbvio que há espaço demais para os estaduais, que não acrescentam em nada para os grandes clubes. Enquanto vivermos com esse cronograma sem pé nem cabeça, muito em nome de uma tradição deficitária, teremos problemas como o que Cruzeiro, Flamengo e Corinthians enfrentam no momento: E, mais uma vez, a entidade que rege nosso futebol desvaloriza seu próprio produto. Se diminuíssemos em mais de dez datas o ano dos clubes, haveria espaço para mais de nossos jogadores na lista de Tite, além de uma maior tranquilidade no planejamento. Há, sem dúvida, um certo constrangimento do treinador em ter que dar satisfação sobre suas escolhas domésticas perante o torcedor, clubes, imprensa e CBF.
Como não chamar Dedé, Paquetá e Fagner? Por que eles estão em trajetórias importantes com seus clubes? Mas não seria justamente essa uma das justificativas para levá-los para defender sua equipe nacional? O pior disso: não convocar mais atletas de um mesmo clube com medo destes mesmos e dos aficionados reclamarem ainda mais.
Quando a Conmebol muda a Sul-Americana e a Libertadores – espalhando-as ao longo de dez meses –, ela força suas filiadas a entender que o melhor negócio é esticar também seus campeonatos nacionais. Parece que a CBF, em sua teimosia costumeira, não acredita nisso. Claro, os estaduais são rentáveis para alguns e necessitam continuar.
Então vamos seguir assim na contramão do esforço global.