Após a Covid-19, o termo “pandemia” certamente ganhou novo significado na mente dos mais de 7 bilhões de indivíduos ao redor do mundo. Enquanto escrevo este artigo, 848 mil pessoas já morreram em razão do coronavírus. Número muito próximo do de mortes provocadas por outro tipo de surto.
Não se assuste com a notícia, mas atravessamos duas pandemias. A primeira nos pegou de surpresa. Um vírus novo, sem remédio e sem vacina. Em poucas semanas, vimos o Brasil mudar; o país parar. Nós nos recolhemos em nossas casas na expectativa de que logo tudo isso iria passar.
Desde março não se fala de outra coisa senão do coronavírus e de seus impactos nefastos. Não há um indivíduo sequer que não tenha sido atingido direta ou indiretamente. Quer seja na saúde, quer seja nas finanças, todos nós em algum momento e de alguma forma esbarramos no vírus.
A segunda pandemia é diferente. Ela é mais antiga, tão antiga que para alguns caiu no esquecimento. Mas, ao contrário da Covid-19, existe uma multiplicidade de remédios. Há medo e desconforto em conversar sobre suas origens e sobre o estrago que ela pode causar. Suas vítimas também se recolhem. Mas não em suas casas, como se faz em relação à Covid-19. Elas se escondem em si mesmas e, muitas vezes, é difícil encontrá-las.
Essa pandemia mata 32 pessoas por dia no Brasil. Para sermos mais exatos, um indivíduo perde a vida em cada primeiro tempo de uma partida de futebol. No mundo, é uma morte a cada 40 segundos. Até o mercado de trabalho já sente os efeitos. A perda pecuniária anual por afastamento é de US$ 1 trilhão no mundo.
Para alguns, os números parecem insuficientes para mostrar a seriedade do tema. Há ainda aqueles que subestimam sua força voraz. Por isso, apelidam a pandemia de “frescura”, ou de “fasezinha”. O fato é que minimizar ou camuflar o assunto mostrou-se ineficiente nesta silenciosa e insistente pandemia chamada de “suicídio”.
A cada três segundos uma pessoa no mundo cede à crença de que morrer é a solução. No Brasil, o oitavo país com o maior número de suicídios do mundo, sete em cada dez pessoas com depressão abandonam os medicamentos, e metade das que estão doentes não dá sequer inicio ao tratamento. Não nos restam dúvidas de que é preciso mudar as estratégias. A notícia de que alguém deseja tirar a própria vida já não soa tão incomum como deveria.
Numa sociedade em que o discurso do amor, da solidariedade e do respeito é tão recorrente, compadecer-se da dor do outro deveria se o mínimo; deveria ser tão natural a ponto de não causar estranheza nas pessoas. É essencial que estejamos prontos para ouvir, para abraçar, para sorrir. O discurso bonito ou o julgamento não cabem na fórmula que neutraliza a dor, o medo ou a depressão. Todos carregamos uma parcela de responsabilidade com quem está bem ao nosso lado.
Enfrentar essa pandemia é mais simples do que podemos imaginar. Basta parar de olharmos tanto para nós mesmos e olharmos só um pouquinho para quem grita silenciosamente.
Aos que foram infectados pelo vírus dessa pandemia, peço que não desistam. Permaneçam lutando, porque certamente a alegria virá logo ao amanhecer. Não se esqueçam de que vida é um milagre. E milagres costumam acontecer quando tudo parece perdido. Enquanto você respirar, existirá esperança e existirá um propósito. Não tenha medo de pedir ajuda.