Prestes a completarmos um ano desde a adoção das medidas de isolamento social, com foco na disseminação do coronavírus, ainda não temos qualquer planejamento por parte dos principais agentes políticos da capital, no que tange a uma volta gradual e responsável das aulas em Belo Horizonte.

Retomar as atividades com inteligência significa aplicar o modelo híbrido de ensino, com parte das aulas presenciais e outra a distância. Dessa forma, é mantido o distanciamento em sala, e os profissionais de cada instituição preservam as suas condições de saúde, uma vez que deverão utilizar proteção individual, além de receberem orientações técnicas para a auto-higienização e demais medidas preventivas. Outro fator importante é a limpeza permanente das áreas comuns. Testes deverão ser realizados periodicamente em professores e funcionários, avaliando sempre a possibilidade de quaisquer riscos à saúde coletiva.

Enquanto o Brasil ocupa a modesta 57ª posição no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), mesmo tendo a 12ª maior economia do mundo, não vemos a educação ser tratada como prioridade para o desenvolvimento científico, social e econômico do país – e muito menos em BH. A propósito, vale o destaque: as nações com melhores desempenhos no ranking, como Singapura, China, Estônia, Finlândia e Irlanda, coincidentemente são as que mantiveram seus estudantes menos tempo afastados da sala de aula. Não podemos deixar nossas crianças e jovens com mais um ano de defasagem nessa perspectiva escolar, justamente pelo frágil cenário no qual estávamos (em “queda livre”), mesmo antes da pandemia.

Em Belo Horizonte, a prefeitura se manifesta contrária à reabertura das escolas, alegando ser impossível a condução responsável de um retorno, com as Unidades de Terapia intensiva (UTI) entrando em estado de colapso.

No entanto, somente em 2021, dezenas de leitos foram inativados sem justificativa plausível. Isso mesmo: com os casos aumentando, tivemos fechamento de unidades de terapia intensiva no SUS municipal. Tenho sincera dificuldade em identificar o porquê de “impossível” estar no vocabulário do chefe do Executivo e de seu secretariado, quando o papel central dos governantes é justamente encontrar caminhos para desafios complexos no que diz respeito à sua essência e às chances de superação das dificuldades.

Não custa lembrar a todos que essa mesma Belo Horizonte teve a nota das escolas municipais reduzidas no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2020. Os resultados, divulgados em setembro do último ano, mostram que o desempenho dos alunos piorou nos anos iniciais e finais do ensino fundamental.

Precisamos priorizar a vacinação e reduzir o contato social desnecessário. Contudo, não podemos abandonar a infância e a juventude à sua própria sorte. As crianças precisam de estímulo social e do contato com outras pessoas. Nossos adolescentes, por sua vez, estão apresentando índices alarmantes de depressão e transtorno de déficit de atenção. Segundo o Conselho Federal de Farmácia, a venda de antidepressivos no Brasil cresceu 17% somente na pandemia. O fato se deu em virtude do estresse, da ansiedade e da angústia, potencializadas pela reclusão absoluta, e mais um ano nessas condições agravará a saúde mental da população jovem.

É chegada a hora de uma retomada responsável das escolas. Defendo sempre o desenvolvimento social e econômico para o nosso país. Sem a valorização da educação, jamais seremos o Brasil das oportunidades ricas que podemos oferecer à população, que tanto merece essa atenção.