Quem nunca ouviu aquele velho ditado: a gente corta o mal é pela raiz. Não obstante a simplicidade da frase, ela é verdadeira e útil para uma infinidade de situações, razão pela qual sua aplicabilidade se torna valiosa e libertadora. Pensemos em uma árvore. Se a sua raiz estiver contaminada, o caule padecerá, e os frutos estarão sempre a apresentar algum tipo de problema. O jardineiro pode até trabalhar incansavelmente na poda desta árvore, contudo o mal persistirá. Os frutos continuarão podres.
Cortar o mal pela raiz é ir à origem. Remediar, camuflar ou remendar podem, no máximo, maquiar a seriedade do problema ou, na melhor das hipóteses, “resolvê-lo” no curto prazo.
Isso se aplica às relações familiares, corporativas, laborais e políticas. Nesta última, a árvore envenenada desencadeia uma série de injustiças que, em larga escala, geram frutos de retrocesso, indignação e desesperança em toda a sociedade. Não é preciso muito esforço para perceber tal verdade no olhar daquele brasileiro que está farto de promessas.
Para chegar à raiz é preciso cavar. Este ardiloso trabalho de furar o solo significa vasculhar, revisar e refletir sobre o que nos tem atravancado. Legislações atrasadas, interesses pessoais sobrepostos, egoísmo; conceitos e verdades invertidas que se arrastam há anos. São alguns dos obstáculos que precisamos vencer até chegar à central dos problemas.
Cada um dos entraves listados é a seiva negativa que nutre a raiz podre. O Brasil, surpreendido pela crise da Covid-19, viu majorar problemas já conhecidos, porém remediados pela poda. O desemprego e a educação deficitária são os exemplos mais nítidos. Não nos resta alternativa. Se não formos à raiz, a árvore poderá morrer. Enquanto ela está de pé, é possível acreditar em sua restauração.
Nos últimos anos o que mais se escutou no ambiente político é a palavra “reforma”: reforma previdenciária, reforma política, reforma administrativa, reforma tributária, e tantas mais. Estas alterações estruturais representam verdadeiro pilar do país. Uma vez alterados, vão reverberar em diversas outras searas.
Essas reformas visam modificar políticas distorcidas que, já há décadas, geram um desequilíbrio social e financeiro no país. É preciso estabelecer regras mais realistas e comprometidas com a saúde econômica e atuarial de longo prazo. Os exemplos são muitos: salários de servidores totalmente incompatíveis com a complexidade da função exercida, férias infindáveis e aposentadoria como punição. Políticos eleitos para servir que se esbaldam em privilégios descabidos e desproporcionais, fazendo aumentar no brasileiro a sensação de que o nosso país é a terra do “jeitinho”.
A reforma administrativa como está poderá economizar aos cofres até R$ 816 bilhões em dez anos, de acordo com o Ministério da Economia. Valor que, se bem empregado – ou não cobrado – poderá mudar a realidade de muita gente.
O setor público precisa estar mais próximo da realidade privada, incluindo a modernização de processos e atividades. É inconcebível assistir tão aceleradamente à mudança no mercado de trabalho e nada fazer em relação ao serviço público. A simples inércia já é um retrocesso. E quanto mais tempo passa, maior o distanciamento dessas realidades.
O Estado precisa diminuir para que emprego e renda cresçam. Menos burocracia, mais empresas; menos impostos, mais autonomia para os cidadãos. Uma equação que dificilmente não redundará em mais trabalho, mais dignidade, mais bem-estar.
Não será simples nem fácil. Mas será um legado para gerações. Se o Brasil tem como objetivo constitucional estabelecer uma sociedade justa com vistas ao desenvolvimento, precisamos reformar. Caminharemos “50 anos em 5”. As reformas bem-feitas arrancarão com o mal pela raiz.