MÁRCIO COIMBRA

Direita moderna

Dominado pelas esquerdas nas últimas décadas, o país observou a visão conservadora ser duramente atacada por seus adversários


Publicado em 10 de novembro de 2021 | 04:00
 
 
 
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Há tempos falta uma direita no Brasil. Dominado pelas esquerdas nas últimas décadas, o país observou a visão conservadora ser duramente atacada por seus adversários. Liberais, então, eram vistos como inimigos, praticamente criminalizados em círculos acadêmicos dominados por ideias arcaicas e desconectadas com a realidade do mundo. A direita política permanecia marginalizada e afastada dos grandes debates.

Foi somente com as manifestações de 2013 que grupos ligados aos movimentos de direita começaram a ser ouvidos. Um estranho mosaico agregava liberais, conservadores e tudo mais que se opunha ao modelo petista. O andamento desse processo evoluiu para o impeachment, impulsionamento da Lava Jato e o surgimento daquilo que se convencionou chamar de “nova política”. 

Na falta de um líder, Bolsonaro soube se colocar como porta-voz de suas indignações, agregando em torno de si os inconformados com os rumos do país. Menos por identificação com o capitão e mais por rejeição aos políticos tradicionais. Apesar de ser um deles, soube posicionar-se e vender-se como um outsider, assim como fizeram Collor e Jânio nos dois ciclos políticos anteriores. Apoiado pelo projeto de uma nova direita, venceu a eleição.

Fato é que no poder Bolsonaro continuou sendo Bolsonaro e aos poucos se afastou daqueles que o ajudaram a se eleger, rifando conservadores, antipetistas, lava-jatistas, liberais e todos os outros grupos políticos contrários ao sistema que começaram a se organizar durante as manifestações de 2013. Passou a autointitular-se conservador e liberal sem jamais defender também essas bandeiras, tentando assim apropriar-se desses grupos de forma torta e dissimulada.

Bolsonaro encarna uma direita populista, estatista, militar e interventora, com pitadas de autoritarismo e flertes com a ruptura e a autocracia. Nada mais distante do conceito de direita moderna, liberal e conservadora, que defende a liberdade dentro de uma economia de mercado, o respeito institucional e a moderação como instrumento de gestão, sem movimentos bruscos e arroubos infantis. Infelizmente, Bolsonaro associou sua imagem com o ressurgimento da direita brasileira, algo que fará um mal enorme para a democracia do país. Sua derrota pode se tornar a derrota da direita como um todo, sepultando os esforços de conservadores e liberais sérios que há tanto tempo buscavam uma chance de mostrar os resultados de uma política feita com responsabilidade, prudência e que fosse capaz de modernizar o país por meio de uma abertura de mercado consciente e planejada.

A centro-direita brasileira precisa se reorganizar sob pena de ser tragada pela insensatez do bolsonarismo, um populismo tosco e tóxico, que em breve encontrará o seu final. O combate à corrupção, economia de mercado, sensibilidade social, moderação política e prudência na gestão são os valores de uma direita real e moderna, que dialoga com seus pares europeus, como a democracia-cristã, populares, conservadores e republicanos. Já chegou o momento de o Brasil possuir uma centro-direita conservadora, democrática, sensata, liberal e equilibrada, que faça diferença na vida de nossa população.

 

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