Quando observamos uma pesquisa eleitoral, a maioria sempre diz que estamos vendo um retrato do momento. Não deixa de ser verdade, mas a soma de várias pesquisas nos fornece a noção de movimento. Este é o elemento essencial para entender a dinâmica eleitoral e a tendência do eleitor. O agregado de várias pesquisas, de institutos diversos, nos ajuda a compreender esta linha temporal e fornece a senha para conseguir prever o resultado de um pleito.

A tendência recente ficou nítida ainda no final de 2015, quando as pesquisas mostravam que o sentimento de ruptura do eleitor com o sistema tornava-se uma realidade. Depois das manifestações de 2013, havia um vácuo político para ser ocupado na medida em que o eleitor sedimentava o desejo de mudança. O apoio diante da operação Lava Jato, o impeachment e a chegada dos outsiders às prefeituras deixaram claro o caminho para onde se dirigia o país.

Quando disse que fechávamos um ciclo de 30 anos e que novamente um insider com pinta de outsider poderia vencer, assim como fez Jânio, Collor e Getúlio (que não venceu, mas assumiu o poder), muitos falaram que estava equivocado e um nome como Bolsonaro, que considerava favorito, nem sequer chegaria ao segundo turno. O resultado é conhecido por todos. Mais do que dialogar com pleito anterior, 2018 foi um retrato fiel da eleição de 1989. Sempre fiz essa leitura.

Assim nos perguntamos o que esperar de 2022. As pesquisas nos mostram claramente o movimento do eleitor. Diferentemente de 2018, não estamos diante de um caminho de renovação na política, mas de acomodação do quadro eleitoral. O pleito de 2020 nos mostrou que o eleitor busca gestores conhecidos, que exercem aquilo que se chama de “política de resultados”. O advento da pandemia somente aprofundou esse movimento, que deseja menos retórica e narrativas e mais soluções reais.

As eleições de 2022 não dialogam com 1989 ou mesmo 2018. No próximo ano, aquele que souber vender esperança coloca-se em vantagem, assim como os políticos que possuem resultados reais para mostrar. Se conseguir agregar ambos, as chances são enormes. O eleitor afasta-se da retórica e do sentimento de renovação e busca um porto seguro em gestores com passado de realizações para encontrar caminhos que tirem o país do drama da pandemia e dos desacertos na economia. Este é o movimento que vemos da soma de momentos de cada pesquisa.

Possuímos três vetores. O desgaste do atual governo contrasta com a ascensão do lulismo nas pesquisas e o espaço aberto para uma força de centro encontrar sintonia com o eleitor. Essa é a tendência mostrada pelas sondagens. Este será um pleito pautado tanto pelos resultados na gestão da pandemia, assim como da economia, quanto pela percepção das gestões passadas dos postulantes ao cargo.

Certamente as pesquisas são um retrato do momento, mas seu movimento ao longo do tempo nos deixa claro que o eleitorado brasileiro estará diante de um caminho consistente para 2022. Confirmando-se a tendência, com as cartas que estão na mesa, já é possível vislumbrar para onde caminhará o país a partir de 2023.