MÁRCIO COIMBRA

Pária internacional

Durante a reunião do G20 em Roma, o amadorismo bolsonarista atravessou fronteiras com o mandatário brasileiro


Publicado em 03 de novembro de 2021 | 04:00
 
 
 
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Durante a reunião do G20 em Roma, o amadorismo bolsonarista atravessou fronteiras com o mandatário brasileiro, deixando uma péssima impressão do Brasil no exterior. Não foi a primeira vez, mas na Itália, Bolsonaro foi alvo de um isolamento presidencial poucas vezes visto na história de nossa diplomacia. Longe das grandes discussões, chegou a ficar de fora da reunião final. Um vexame diplomático.

Diante de sua posição negacionista durante a pandemia, acreditando na ilusão da cloroquina e rejeitando as vacinas, Bolsonaro passou a ser alvo de rejeição externa. Antes disso, havia se negado a receber representantes franceses, criticado Alemanha e Noruega, acusado o pleito americano de fraude, sendo o último líder mundial a cumprimentar Biden por sua vitória. Bolsonaro se esforçou para se tornar um pária no cenário externo.

Sem compromissos bilaterais, o que apenas denota o desinteresse da comunidade internacional perante o Brasil, a comitiva brasileira ficou à deriva sob o comando de um Bolsonaro que preferiu passear por Roma do que fazer parte das discussões do G20. Nosso país, sempre ouvido e participante ativo das negociações externas, foi rebaixado por seu Presidente. As razões são óbvias.

Como se não fosse o bastante, Bolsonaro, fora do cercadinho, assediado por jornalistas, mais uma vez forneceu sinais de desprezo pelo trabalho da imprensa que cobria sua visita a Roma. Ao contrário dos líderes de outras nações, que organizam coletivas de imprensa, divulgam a agenda e fornecem detalhes da visita para a imprensa, o Brasil preferiu o silêncio e os habituais coices presidenciais.

Bolsonaro destoa dos líderes mundiais, assim como o Brasil destoa de outros países, que souberam conter a pandemia, apostar de forma firme na ciência e encontrar saída para salvar o maior número possível de vidas. Outras nações trabalharam também em mecanismos para atenuar os impactos na economia e fazer com que a atividade econômica pudesse se recuperar com mais vigor e em maior velocidade. O Brasil apenas distribuiu bolsas de auxílio sem se preparar para o futuro.

Fato é que líderes como Bolsonaro vivem seu ocaso no mundo. A derrota de Donald Trump é sintomática nesta direção. O desinteresse por Mateo Salvini na Itália e de grande parte de uma direita populista que chegou ao poder poucos anos atrás demonstra que o grupo perdeu tração e impulso nas urnas. A tendência internacional joga contra Bolsonaro e seu populismo vazio que apenas gerou caos social, polarização política e desacerto na economia. Sem resultados práticos, deve ser desalojado do poder como seus pares.

Assim como os líderes internacionais, o Brasil deve mirar no pós-Bolsonaro, pois é inútil esperar qualquer movimento equilibrado e sensato do atual governo. Após este hiato de insensatez, nosso país deve mirar na recuperação de sua imagem, no resgate de seus valores e respeito nos fóruns internacionais. Somos líderes naturais em assuntos relevantes como meio ambiente e possuímos objetivos estratégicos a serem alcançados como fazer parte da OCDE. Já passou da hora de deixarmos de ser párias internacionais e voltarmos a possuir nosso protagonismo de outrora.

 

 

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