MARCUS PESTANA

FHC, 80 anos: a herança definitiva

Redação O Tempo

Por MARCUS PESTANA
Publicado em 26 de junho de 2011 | 21:57
 
 
 
normal

Descobri o mundo da política no movimento estudantil. Já tinha desenvolvido o sentido da solidariedade no convívio com as jornadas católicas ligadas à Igreja carismática. Daí para a Teologia da Libertação, foi um pulo. Na universidade, no ambiente de refundação da UNE, liguei-me à ortodoxia marxista-leninista. Contradições e dúvidas foram me afastando da esquerda ortodoxa. Elegi-me vereador já orbitando em torno do pensamento progressista independente. Dialoguei com os "eurocomunistas" cariocas. Mas a verdade é que, nos dois primeiros anos do meu mandato, ressentia-me de uma referência ideológica mais sólida.


Foi aí, em 1985, passando por uma banca de jornal, que me surpreendi com uma capa da revista "Status" pendurada. Geralmente a capa da revista era povoada por mulheres bonitas. Essa, não. A chamada era "Um intelectual produzido para o poder" e apontava o "Felipe González brasileiro". A guinada editorial da revista tinha levado FHC para sua capa. A entrevista do senador, naquela época ainda no PMDB, marcou minha trajetória e me deu o rumo que até hoje sigo.


Naquele ano, FHC perderia a eleição para Jânio Quadros. Lembro bem que, no 15 de novembro, em São Pedro da Aldeia, ao saber o resultado pela TV, recolhi-me ao quarto com uma tristeza enorme.


Recentemente, na antevéspera da 10ª Convenção Nacional do PSDB e próximo ao seu aniversário de 80 anos, visitei FHC em seu instituto, no centro da capital paulista. Foi uma divertida e produtiva conversa. Encontrei um líder cheio de energia, de bem com a vida e no auge da maturidade intelectual. Como sempre, bem-humorado: "80 anos? Isso é intriga do PT. Vou fazer bem menos".


Não gosto muito de colecionar ídolos na política. Meus ídolos sempre foram Pelé, Tostão e Zico, Milton, Chico, Caetano e Paulinho, Drummond, Guimarães e Pessoa, Picasso, Van Gogh, Portinari, Beatles, Miles Davis e Louis Armstrong. A política é controversa e complicada demais para gerar ídolos. Mas, da política no Brasil, se há alguém que é referência para mim é FHC. Ao lado de JK, Tancredo, Ulysses e Covas.


Mas a identificação e a admiração maior sempre foram na direção de FHC. Desde a leitura de "Desenvolvimento e Dependência na América Latina" até o acompanhamento de sua militância em favor da democracia nos anos 80.


O destino foi generoso. Entregou a condução do país a um dos poucos estadistas que ocuparam a Presidência. A democracia se consolidou, a inflação foi domada; o Estado, reformado; a economia, modernizada; a miséria e a pobreza, atacadas; o Brasil, preparado para o mundo globalizado; a faixa presidencial (em momento raro de nossa história republicana), passada para um operário da oposição, democraticamente eleito.


O Brasil deve muito a FHC. Quem contar a história brasileira e não der papel de destaque a FHC ou estará desinformado ou estará mentindo. Viva a seus 80 anos! Ou será mesmo (a idade) um boato espalhado pelo PT?

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!