No meu balanço pessoal, 2017 está indo embora levando uma bagagem com excesso de peso, o que não é necessariamente ruim. Para cada descontentamento, colecionei muitos motivos para agradecer e outros tantos para comemorar. Se pensar direitinho, todo ano costuma ser assim. Mas os descontentamentos são tão espaçosos e aparecidos, que acabam chamando muita atenção e sequestrando mais energia. Então, deve ser trabalho diário mudar o foco para o que alimenta nossa ideia do que seja felicidade.
A minha lista de boas coisas deste ano foi inaugurada com uma visita ao Centro Budista Kadampa Maitreya, instalado sem qualquer ostentação em uma pracinha na Prudente de Morais. Fui a primeira vez em janeiro, atraída por uma aula de meditação. Visitei mais uma dezena de vezes, tendo a certeza de que encontraria algumas doses de transformação. Resolvi que a despedida de 2017 também deveria passar por ali e guardei um pedacinho da manhã do último sábado para escutar o que o monge Kelsang Namdrak tinha pra dividir.
Não precisava ser convencida, mas o nome da aula ainda carregava aquele apelo típico dos últimos dias de dezembro: Como planejar seu Ano Novo. Aprender uma receita budista de como enfrentar os próximos 365 dias me pareceu uma ótima ideia.
Pelas minhas experiências anteriores naquela salinha com paredes beges, deveria saber que sairia de lá com várias provocações, mas nunca com um roteiro pronto e universal, capaz de servir em qualquer corpo. Sou incapaz de reproduzir aqui o que ouvi em uma hora e meia sem me assumir uma fraude, mas dá pra compartilhar umas coisinhas que passaram a morar nesta cabeça inquieta desde então.
A começar pela indefectível lista de resoluções de Ano Novo. Já não me rendo a ela há algum tempo, não por falta de desejos, mas por ver tantos planos sendo reciclados a cada dezembro. O problema é que ela geralmente nasce com defeito de fábrica. A relação de metas objetivas é só um disfarce para verdadeira lista, de como a gente gostaria de se sentir. Mas onde está a garantia?
E se, como experiência, a gente se dedicasse a outro tipo de projeto pra ver no que dá. Pode ser uma lista de desapegos: o que não faz mais sentido, quais histórias estão arrastando seu último capítulo, quem precisa passar, quais sentimentos ficariam melhor conjugados no passado.
Também pode ser decidir ficar atento. Sem tantas distrações, é capaz de 2018 passar sem tanta pressa, com o que alimenta nossa ideia do que seja felicidade sendo mais espalhafatoso do que os descontentamentos inevitáveis.