Mineiro de Tarumirim, no Leste de Minas, Marcelo Bomfim assumiu a presidência do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) que está completando 60 anos no mercado.
O executivo diz que o banco trabalha para diversificar sua carteira de crédito para as empresas e também está estruturando operações de crédito para que micro e pequenas empresas fiquem mais fortes com recursos mais baratos.
Além de criar a sala da prefeitura no banco, Bomfim abriu mais R$ 300 milhões para financiamento a todos os municípios mineiros.
A seguir, a entreevista do presidente do BDMG, Marcelo Bomfim, à jornalista Helenice Laguardia, da coluna Minas S/A:
Como foi esse desafio de ter essa função de comandar um banco tão importante para investimentos?
Durante 33 anos eu atuei na Caixa Econômica Federal, um banco 100% público também, 20 anos como superintendente regional e atuei em todo o estado de Minas Gerais. Eu conheço 580 municípios mineiros, numa interlocução muito boa de conhecer as realidades regionais. É por isso que eu acho que o BDMG não pode ser apenas um banco, mas um verdadeiro banco de desenvolvimento que conheça profundamente as realidades mineiras para poder interagir com essas realidades e transformar-se realmente num indutor de desenvolvimento.
Sobre esse conhecimento de 580 municípios mineiros, você tem uma abrangência e um raio X do que é a realidade de Minas Gerais. E Minas a gente pode ter sempre aquela frase clichê que são várias, mas é mesmo: o Norte é de um jeito, o Leste onde você nasceu é de outro jeito, o Sul, Zona da Mata, Noroeste... Qual é o seu projeto de futuro para essas regiões tão variadas, tão diversificadas?
Minas Gerais tem as suas naturezas muito diferenciadas, como se fosse um país muito diferente onde o sul com as suas vocações, os seus arranjos produtivos muito bem organizados em diversos municípios mineiros. Nós temos o Leste de Minas com a sua situação que também sofreu muito, principalmente os municípios à margem do Vale do Rio Doce. Nós temos o Triângulo Mineiro pujante na sua economia, o Noroeste de Minas. O Norte, o Jequitinhonha, o Centro-Oeste e a Zona da Mata. Cada um com a sua vocação. Entendo que o banco pode ser muito importante pra isso. O nosso trabalho, de agora adiante, é justamente essa aproximação, entender essas realidades. Atuar, por exemplo, no Vale do Jequitinhonha, que precisa muito do nosso trabalho de desenvolvimento, apoiar projetos lá no Norte de Minas, onde o sol está o ano inteiro; muitos empresários de todo país estão vindo pra Minas e nós estamos apoiando projetos de energia fotovoltaica. É energia limpa que diz respeito aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
O Norte é uma região que ela se mostrou pra essa vocação da energia fotovoltaica, energia limpa, energia solar, eólica. E aí o que que o banco está fazendo em relação a esses projetos? São quantos os projetos que o banco está financiando? Quais são os juros, se eles são diferenciados para esses investimentos que geram tantos empregos.
Minas é um exemplo hoje de estado que mais investe nesse tipo de programa de energia fotovoltaica, energia limpa. O BDMG, por exemplo, no primeiro trimestre, investiu R$ 75 milhões só nesse tipo de projeto e tem mais de R$ 405 milhões disponíveis. Nós temos uma parceria com o Banco Europeu de Investimento. É um banco multilateral, um organismo que financia barato. Então, nós podemos pegar esse recurso, apoiar as empresas para investir e gerar os trabalhos, postos de ocupação, manter empregos e contribuir com a natureza com juros que variam de 3% a 6% ao ano. O prazo com uma carência que pode chegar de 6 a 24 meses. São projetos mais baratos que só um banco de desenvolvimento pode fazer. O BDMG tem sido importante para atrair investidores para Minas Gerais.
O quanto são projetos mais baratos que o banco pode financiar com que tipo de juros em relação ao mercado, ao que o sistema financeiro convencional faz?
Um banco comercial comum tem operado aí com uma taxa de 1% a 3% ao mês nesse tipo de projeto. Esses são projetos que se pagam, que ao longo do tempo trazem uma economia para quem está investindo, aquecem a economia do estado, geram empregos. Há um retorno. Essa conta de energia elétrica vai ficar mais barata para aquele consumidor final. Tanto para quem está usando e também pra empresa que se rentabiliza, ela tem lucro com esse negócio. Então, ela não vai dar calote no banco.
São projetos que se pagam. E aí é feito todo um trabalho. O banco tem uma análise de risco muito bem sustentável. Nós temos uma preocupação com a sustentabilidade financeira do banco. São projetos de 3% a 5% ao ano, mais uma correção SELIC. São taxas mais baratas do que o mercado está praticando. Em um banco de desenvolvimento, nosso grande desafio é captar recursos internacionais mais baratos, diminuir o nosso custo de captação para poder emprestar barato para os mineiros.
Muitos bancos aqui no Brasil alegam que o custo do dinheiro aqui é caro porque a inadimplência é alta. E aí poder democratizar mais o financiamento, o crédito, não é Marcelo?
Essa é a grande vocação de um banco de desenvolvimento. O Estado de Minas Gerais precisa de um banco de desenvolvimento, que pode contribuir para micro e pequenas empresas, para os próprios municípios no investimento municipal, para apoiar, sim, projetos e médias e grandes empresas porque são importantes, mas não somente eles. O banco precisa diversificar isso no trabalho de apoiar também micro e pequenas empresas como fizemos no primeiro trimestre, pulverizando o crédito. Então, nós tivemos um resultado espetacular assim. No programa Recupera Minas, do Governo do Estado nós conseguimos emprestar a 0,5% ao mês fixo, com carência de 6 meses e 36 meses para pagar, principalmente nas cidades que decretaram estado de calamidade e situação de emergência Muitas empresas que perderam tudo depois das chuvas que arrasaram nosso estado.
Em relação às empresas, qual é a divisão? O BDMG tem emprestado mais pra pequenas e médias empresas? Porque tem uma reclamação histórica sobre o banco ser um banco de fomento, mas que precisava dar mais apoio ao micro e pequeno negócio que não tem dinheiro em caixa para todas aquelas garantias que os bancos exigem. Essa realidade mudou no BDMG ou você ainda quer mudá-la ainda mais?
Acredito que essa realidade já mudou e mudará muito mais ainda, porque o banco trabalha para diversificar sua carteira de crédito. Nós temos um volume muito grande de crédito em médias e grandes empresas. Esse volume significa em torno de 56% da nossa carteira. Nós temos uma carteira de micro e pequenas empresas e uma carteira de municípios também, porque apoiar municípios significa desenvolver aquela pequena cidade. O BDMG empresta um dinheiro para financiar uma ponte que caiu, a infraestrutura urbana, o lixo da cidade, o saneamento, a habitação de gente que ficou desalojada, possibilita financiar o município, ao invés dele pagar caro em uma máquina para recuperar a pavimentação, financiar energia fotovoltaica, cidades inteligentes etc. Quando o banco faz isso, o que ele quer? Gerar sustentabilidade. Morar numa pequena cidade sustentável gera riqueza, mantém empregos. Então, esse é um papel de um banco de desenvolvimento: apoiar municípios, criar uma consultoria municipal para que eles busquem recursos de outros organismos, do Governo Federal também, diversificar a carteira para as micro e pequenas empresas. É preciso uma atenção.
Para quais setores? Quais setores tem mais procurado o BDMG, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais para conseguir financiamentos?
Estamos presenciando um momento em que o setor de comércio e de serviços cresceu muito no estado de Minas Gerais e foi responsável também pelo crescimento do PIB. Esse setor do comércio, de serviços, o agronegócio mineiro exerce um papel fundamental. 50% do que nós desembolsamos e injetamos na economia é para o agronegócio. O setor cafeeiro é muito importante para o país.
Então, a gente tem que ter mais apoio a esses setores, a vocação de Minas é essa, não é? Um terço do PIB aqui é o setor agropecuário, não tem como negar essa vocação de Minas, né? E aí pro setor agropecuário você tem alguns setores específicos que estão demandando mais?
O setor agropecuário mineiro é multifacetado e tem várias nuances de vários temas, mas os mais importantes são o leite, a pecuária, o café... Nós repassamos via Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafeeira) um valor expressivo, que contribuiu muito para o estado de Minas Gerais. Inclusive, agora, o banco também espera ser um repassador importante do Funcafé. O Ministério da Agricultura reconhece no BDMG isso. É o BMDG quem repassa para os agricultores mineiros. Agora... um ponto que eu queria destacar é que o BDMG faz muitas coisas que a nossa população não sabe. Por exemplo, nós temos discutido a guerra: o fertilizante caro.
E já era pra gente estar produzindo fertilizante aqui, não é?
Temos um trabalho inovador. A Embrapa, há muito tempo, desde 1999, estuda a rochagem, o pó de rocha. Todo mundo sabe que Minas Gerais é rico em minerais, é um solo que tem o minério. É claro que cada solo depende desse manejo, de um estudo científico. E nós buscamos o recurso internacional. Fizemos uma parceria com a Embrapa, que vai capacitar na primeira turma os agricultores lá do Triângulo Mineiro, do Noroeste de Minas e do Alto Paranaíba, para que eles sejam ensinados a como fazer esse manejo da terra, com o pó de rocha. E, como a forma alternativa, vai usar a um fertilizante poderoso que já tem sido visto e constatado de forma científica. Além disso, contribuir para diminuição de emissão de carbono na nossa natureza. Então, ao mesmo tempo em que se contribui com o meio ambiente, nós impulsionamos a nossa agricultura, a agricultura de cerrado, que Alysson Paolinelli, da sua visão lá de trás, impulsionou.
O BDMG tem acesso a esses financiamentos de bancos externos? Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento e outros bancos também de fomento fora do país exatamente para financiarem projetos como esse, não é? Então, o BDMG já está financiando a Embrapa pra ela ensinar os produtores a investirem nessa área tecnológica para que a gente possa ter uma economia estimulada para produzir fertilizantes, por exemplo, né? E depois o banco vai também financiar esses produtores?
Sim, além da Embrapa, em parceria com a Secretaria de Agricultura do Estado, nós temos a Epamig e a Emater, que podem também exercer braços importantes para outras regiões do Estado nessa capacitação da Embrapa. Evidentemente que para nós é importante primeiro a capacitação e depois o financiamento. O banco não tem uma carteira de pessoa física, porque há uma regulamentação, uma resolução do Banco Central que não permite que o banco opere em todas as carteiras. Mas nós podemos emprestar para as empresas. E aí usar as cooperativas, usar formas alternativas de fazer o repasse para os agricultores. Então, esse é o trabalho importante. Nós também, no primeiro trimestre, fizemos um trabalho muito forte com os municípios para tirar pessoas em área de risco. Olha a preocupação nossa, do Governo Mineiro, em parcerias com a secretarias em relação a isso. Todos os anos assistimos as tragédias. O ano que vem pode acontecer de novo. Então o que que precisamos fazer? Postes observacionais. Estudo técnico para mitigar o que que vai acontecer adiante. Se sabemos que todos os anos acontecem os problemas naqueles locais específicos, vamos atuar antecipadamente em postos observacionais, em estudos técnicos, para poder permitir intervenções que possam diminuir esses impactos que nós mesmos causamos à natureza. Então, esse é um trabalho importante que o banco junto com a Secretaria de Infraestrutura se propõe executar durante o decorrer do ano.
Qual é o volume atual para as prefeituras? Você falou que quer criar uma sala da prefeitura no banco, que é uma área muito importante ainda mais em Minas. Temos 853 municípios mineiros que estão, às vezes, desesperados em regiões mais pobres em busca de financiamentos, como projetos como esse que são caríssimos, não é? Como você quer ficar reconhecido nessa área da área pública?
A primeira coisa importante é dizer o porquê de atuar com o município. Quando nós, de um banco de desenvolvimento, ajudamos num hub de prestação de serviço os municípios, auxiliar com que eles busquem alternativas de projetos, não só no banco, mas também outros organismos e até internacionais, nós pensamos em criar um ambiente, uma sala onde os prefeitos possam ir lá, receber essa consultoria. E nós, no primeiro trimestre, tivemos recursos para aqueles municípios atingidos que decretaram estado de calamidade e situação de emergência, que foram mais de 400 municípios. Abrimos agora mais R$ 300 milhões para financiamento a todos os municípios mineiros, com programas de saneamento, abastecimento de água, estação de tratamento de esgoto, pavimentação, recuperação de pontes, estradas vicinais, colocar a cidade em tecnologia Wi-Fi, internet nas praças etc. Outra coisa importante: prédios históricos do patrimônio histórico das cidades históricas. Criamos uma linha específica para essa recuperação. O município vai pagar o banco com prazo de até oito anos.
E o que mais os municípios podem esperar em relação ao financiamento do BDMG?
Você me perguntou como eu queria ser reconhecido, se ao final do meu trabalho eu me sentir tão satisfeito de ter contribuído para que os municípios encontrem suas vocações regionais, para que se desenvolvam um pouco, porque nem todos os problemas serão resolvidos. Mas se a gente puder dar uma contribuição para que os municípios promovam seu desenvolvimento, que pensem em projetos sustentáveis, projetos que dizem respeito a ASG (ambiental, social e de governança). Que tenha inclusão, que cuide do meio ambiente, que tenha os objetivos de bem-estar para as pessoas, que tenha um meio ambiente mais sustentável para as gerações futuras e que o setor público, lá nas prefeituras, seja também instado a pensar uma cidade mais inteligente. Então, esse é um legado importante que o banco começa a trabalhar. Não só isso, apenas um braço, mas também para que as micro e pequenas empresas possam se desenvolver sem comprometer a sua saúde financeira. Eu gostaria de pensar a cidade na sua sustentabilidade, que os municípios sejam incitados a pensar a cidade pra geração futura, uma cidade que não tenha tantas obras faraónicas, mas tenham obras importantes como saneamento, obras que dizem respeito ao meio ambiente, projetos ASG que tem inclusão das pessoas, cidades que tem a preocupação com a inclusão, com o deficiente. Então, esse seria um legado, um legado de pensar o município como uma cidade boa de se viver, uma cidade que pense na sustentabilidade e apoiar aquelas empresas para que elas não morram. As estatísticas dizem que a empresa com dois anos morre. Muitas vezes o crédito mata a empresa, dinheiro também mata uma empresa. Ela precisa de uma capacitação, buscar essas parcerias com o SEBRAE, outras entidades e fortalecer micro e pequenas empresas porque elas são 99% das empresas do país.
Quando você fala aí: que não sejam obras faraônicas para as pessoas ficarem na cidade. E nesse período de pandemia muitas pessoas voltaram para suas cidades de origem, aqui em Minas Gerais esse movimento aconteceu de uma forma muito expressiva. E com as pessoas que a gente conversa eu vejo que elas se sentiram com uma qualidade de vida melhor e ao mesmo tempo um salário que não é todo gasto no altíssimo custo de vida que tem uma capital. É possível o banco ajudar cada vez mais para que as prefeituras, o poder público e os gestores consigam fixar essas pessoas para que elas não tenham essa ilusão de vir pra capital e essa situação que muitas pessoas se perdem. É possível, por exemplo, você falou em cidades inteligentes, cidades mais tecnológicas, uma economia só se ela for muito diversificada para manter a pessoa lá na cidade. Como que o banco tem feito para estimular esses projetos?
Eu acho que é plenamente possível. Depois da pandemia as pessoas criaram novos roteiros de vida e querem realmente viver em pequenas cidades que é o bem-estar. O bem-estar, a saúde, é um patrimônio que as pessoas buscam. E eu vejo que, buscando exemplo ainda em Minas Gerais, existem alguns locais diferentes de outros que as cidades são mais organizadas. O governo do estado de Minas Gerais tem estudado os Arranjos Produtivos Locais, os APL. São diversos APL espalhados pelo estado de Minas Gerais. Uma cidade que cuida da malharia, a outra que cuida do pé de moleque, a outra do pólo eletroeletrônico, a outra da lingerie, do pijama, do biscoito. E essas vocações acabam gerando riqueza naquela localidade. Eu dei o exemplo aqui de criar alternativas locais, aproveitar as nossas forças, a potencialidade do minério mineiro. Para que use isso como um fertilizante para nossa produção ser mais pujante ainda, ter produtos de maior qualidade para exportação e isso vai gerar riqueza local. Então, é preciso ser o banco, sim, rentável regulado pelo resultado. Mas conciliar B do banco com o D do desenvolvimento, e aí ajudar todos os municípios do estado.
Que é o grande desafio, não é? A gente não fez só mais um banco, não é? Porque pra isso já tem um sistema bancário aí no Brasil consolidado, apesar de ser muito concentrado, né? Mesmo com esses bancos digitais, é um banco que precisa ter essa sua função pública. E a gente entra nessa questão exatamente, como conciliar?
O BDMG não se propõe a concorrer com o banco comercial comum. O BDMG tem uma regulação bancária muito forte. O Banco Central, a governança do banco, o conselho, o risco. Como você disse, a Basileia, todos esses indicadores. Então, o banco precisa dar lucro para sustentar a sua atividade, mas um lucro pensando no desenvolvimento também. Então, conciliar e equilibrar esses dois pratos numa balança pode ser uma atividade difícil, mas ela precisa ser perseguida. O banco se propõe a apoiar projetos inovadores que trazem desenvolvimento, que gerem mais riqueza, que mantenha postos de trabalho, não só crie novos, mas mantenha postos de trabalho. Que haja uma interlocução deste banco com todas as secretarias de governo, para que os trabalhos desta secretaria sejam analisados à luz do que o banco pode ajudar sem sombreamento. E isso será muito importante pro BDMG. O BDMG espera atuar com as secretarias. Estamos fazendo um trabalho de concessão, em parceria com a Secretaria de Infraestrutura, de uma modelagem da pavimentação que começa em Mariana vai até Rio Casca. E aí entrega para um leilão daquela empresa que será vencedora do certame. O banco se propõe a fazer esse trabalho de modelagem. E é um outro tipo de atuação ainda mais importante que o banco pode fazer e ter receitas numa contribuição de estado. Então, é esse um trabalho que iremos propor durante todo esse ano e nos próximos anos.
Essa questão das estradas em Minas Gerais também é nevrálgica, não é? A gente tem a maior malha rodoviária do país, o que mais o banco pode fazer para contribuir com isso?
O banco sempre estará aberto a discutir as parcerias com os organismos de estado e outros organismos da sociedade. Nós estamos discutindo não só essa questão de rodovia, mas também entender o que está acontecendo nos territórios minerados. Vou te dar um exemplo: na região de Itabira, passará o tempo, a Vale sairá de lá e o que restará? Temos outras cidades que têm vocação e tem empresas atuando. Quando elas forem embora, o que acontecerá? Então, é preciso estudar hoje, e o banco já tem uma parceria nisso com o Governo do Estado, com outras entidades, com os municípios para entender como intervir nas realidades regionais, para gerar riqueza, para gerar parcerias que possam atrair emprego, empresas, outro setor produtivo. Então, esse estudo de diagnóstico o banco já está fazendo em parceria com o SEBRAE.
Porque são estudos caríssimos, não é?
Caros. E aí o banco tem também esse conhecimento de relacionamento. Eu também, durante anos, atuei na Caixa fazendo análise de Perfis Municipais, de entender as realidades regionais, posso contribuir muito, já que tenho muita propriedade neste tema.
Vocês estão na fase de estudos, elaboração de levantamentos. Aí o banco vê o raio X da região e qual é a vocação econômica que ele pode ter e daí financia projetos?
Lá na cidade de Conceição do Mato Dentro, por exemplo, nós temos a cidade que tem a terra “cara” e as pessoas moram nas vizinhanças. Como resolver isso? Oferecendo outro tipo de moradia mais barata, com os bancos apoiando com projetos. O BDMG também está estruturando operações de crédito para que micro e pequenas empresas fiquem mais fortes ainda com recursos mais baratos. Eu capto recurso internacional mais barato, ofereço mais barato para que a empresa não morra. Com outras entidades, como o SEBRAE capacitando pessoas e empresas. O governo atraindo investimento e novas empresas de outros setores, aproveitando as potencialidades que foram estudadas onde? Lá naquele estudo técnico. E aí de posse do estudo técnico vamos intervir. Então, esse é um trabalho que vai aprofundar durante o tempo, mas será importante.
E ele já tem uma data assim pra terminar? Vocês começaram agora e qual é o tempo dele?
Esse trabalho é novo. Começa agora. A cidade de Itabira começou, Nova Lima começou, Conceição do Mato Dentro também está começando e tem outras participantes desse projeto.
Esse trabalho vai se estender a outros setores da economia outras cidades com outras locações?
Acredito que sim, nesse primeiro momento os territórios minerados.
E é uma pesquisa feita pelo BDMG ou vocês contrataram uma gestão?
Pelo BDMG, pelo SEBRAE, por outros atores, pelo Governo do Estado. Do outro lado nós temos também um rearranjo dos arranjos produtivos do estado de Minas Gerais. O que é isso? Arranjo produtivo, essa palavra é difícil. É só lembrar que em Carmo do Cajuru tem uma fábrica de móveis e muitas empresas que atuam com móveis. Várias empresas do mesmo setor se organizando para que compre mais barato, pra que gere mais emprego. Aí temos lá o setor pólo eletroeletrônico em Santa Rita de Sapucaí. Lá em Ubá também tem o setor moveleiro, dos móveis. Tem a malharia em Monte Sião, temos gemas e jóias lá em Teófilo Otoni, Governador Valadares. O Norte de Minas também tem. São diversos arranjos produtivos espalhados em diversos setores que precisam ser incentivados. O que o banco irá fazer? Criar uma taxa de juros mais barata para os arranjos produtivos. Isso será anunciado posteriormente num evento, podendo contar com a presença do nosso governador.
Qual será essa taxa?
Ainda estamos precificando essa operação para que não seja uma operação de balcão.
Atualmente qual é o tempo máximo de financiamento do banco?
Depende do projeto. Por exemplo, tem projetos para aquisição de máquinas e equipamentos, para projetos de capital de giro, o prazo é mais curto. Quando são para investimentos os prazos são mais longos. Os projetos de energia fotovoltaica, por exemplo, pode variar de até 5, 6 ou 7 anos. Financiamento de municípios vai até 8 anos. Então, depende do setor. Dependendo do projeto você dá um prazo mais longo. Quando é um projeto que precisa se pagar com o tempo, damos carência e um prazo maior para que o projeto seja sustentável.
E volume de desembolsos, para financiamento, empréstimos. Qual o volume que o banco tem atualmente para emprestar esse ano?
No ano passado, nós fomos responsáveis por desembolsar em torno de quase R$ 2 bilhões na economia. Esse ano, nós esperamos superar o que aconteceu no ano passado. Os números do banco no primeiro trimestre foram divulgados à imprensa e tivemos um crescimento de 76% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Então, os indicadores mostram que estamos no caminho certo, procurando não só ganhar dinheiro com taxa de juros, mas fazer mais barato, ter resultado expressivo, ganhando escala e oferecendo mais crédito para micro e pequenas empresas, pulverizando esse crédito e buscando outras receitas. Nessa prestação de serviços, o banco pode buscar outras receitas que trazem sustentabilidade ao banco.
Que outras receitas são essas?
Como eu disse, de modelagem, concessões. Mas não só isso, também captando mais barato. Quando você capta mais barato, principalmente com organismos multilaterais estrangeiros, você pode emprestar na outra ponta mais barato.
O banco está aí com uma inadimplência, digamos controlável, saudável, como as pessoas, as empresas estão pagando?
Os nossos números mostram que a inadimplência do banco é muito baixa, nós estamos mantendo no patamar de mercado, controlada. O banco mantém critérios conservadores de análise de risco, nós temos uma equipe altamente capacitada que precisa ser elogiada, que precisa ser estimulada a pensar ainda mais estrategicamente, como tá sendo pensado e o banco tá fazendo tudo de uma forma pulverizada. Quando você pulveriza mais o crédito, você coloca valores nas mãos de muitas pessoas, em doses menores, e isso ajuda a manter também uma inadimplência que, no caso de perda, não afeta tanto o banco. Mas não só isso, os critérios de concessão melhoraram de forma transparente. Então, você que está me vendo neste momento... se você entrar na plataforma do BDMG, https://www.bdmg.mg.gov.br/, lá você pode simular o seu crédito, todo de uma forma digital. Você que é prefeito, que está no município, você pode entrar lá até o dia 30 de maio e pode escolher que tipo de projeto o município pretende financiar. Isso será feito de forma transparente e digital. Não precisa ir ao banco, tudo de uma forma digital e transparente.
Então a pessoa consegue saber por que o crédito dela foi negado ou não é?
Sim, consegue a resposta, por exemplo, agora nós tivemos um volume muito grande de pedidos, mas também com taxa de 0,5% ao mês e todo mundo quer. Evidentemente que não podemos atuar tanto tempo assim, pelo volume da taxa de juros que cresceu para todos os bancos. Mas isso foi possível porque houve um aporte também do Governo do Estado que permitiu o banco atuar com taxa mais reduzida. Então, nós tivemos isso aberto até o dia 30 de abril, e muitos entraram depois desse dia.
E aí vocês prorrogaram?
Quando entrou depois do dia 30 de abril já estava fechado o volume. Mas de toda sorte vamos buscar outras formas de atuação para que a gente consiga emprestar ainda mais barato que o mercado.
Taxa Selic aí em ascensão, não para de subir essa taxa, né? E agora também inflação nos Estados Unidos, subiram a taxa de juros lá, isso influencia de alguma maneira no valor do dinheiro do crédito do BDMG?
Sim, influencia para todos os entes, todos os organismos, todos os bancos. O crédito fica mais caro, inflação alta, taxa de juros mais elevada. Isso impõe mecanismos de buscar outras formas de captação, de achar organismos que atuem em projetos relevantes, de entender que o banco precisa atuar para o meio ambiente, saber captar recursos para que sejam direcionados a isso de uma forma mais barata e prestar outro tipo de serviço. Inovação, inovar processos, isso é muito importante para um banco.
Não somente aquela economia tradicional, mas na área tecnológica, em startups também, o banco está aberto pra isso.
Sim, nós temos parceria com a FAPEMIG, alguns editais em andamento para que as empresas possam inovar produtos, principalmente as empresas que tem produtos. Será aberto ainda um edital específico para inovação, em parceria com a FAPEMIG.
Ainda neste primeiro semestre?
Sim, nesse primeiro semestre, com a parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o secretário Fernando Passalio tem atuado muito forte nisso para gerar novas empresas para o Estado de Minas Gerais. Isso tem sido um marco importante para Minas, trazer novas empresas e com inovação. A inovação permite fazer um um diferencial que gera uma cadeia produtiva mais elevada, que gera emprego e que seja uma coisa muito boa para os destinos de Minas.
Mineiro de Tarumirim, no leste de Minas Gerais, Marcelo Bomfim está comandando um banco que está com 60 anos, que é o BDMG. Uma grande responsabilidade, não é Marcelo? E que você possa gerar cada vez mais frutos é o principal, não é?
É o que a gente quer de um banco de fomento como o BDMG. É democratizar o crédito, diversificar o acesso desse crédito a mais empresas, a mais prefeituras para gerar esse crescimento de Minas. Eu quero agradecer a você, essa conversa boa.
Que você tenha aí novos projetos, ainda mais projetos pra gente ter essa economia diversificada em Minas de uma maneira saudável, não é? De sobrevivência a esse mercado no pós-pandemia.
Nós do banco é que queríamos agradecer a você, a sensibilidade da Coluna Minas S/A por não só prestar serviço relevante de informação, informar as pessoas pra entender o que esse banco faz. Nesses 60 anos, tão importante quanto resgatar a memória do que aconteceu do passado, é como continuar. Eu tive a oportunidade de atender 165 prefeitos, logo nesses menos de quatro meses no banco.
E eles foram lá procurar?
Eles foram lá procurar informações, entender o que o banco está fazendo de novo. Entender como podemos ajudar. Buscamos uma interlocução com todos os atores daquelas pequenas cidades, todo o comércio, todo o serviço. A pequena indústria que está lá ganhará. É um impacto total para a cidade.
E aí você até já criou essa sala do prefeito ou vai criar?
Vamos criar ainda. Eu te dei aqui a notícia em primeira mão, vamos criar uma sala específica nos próximos dias será muito importante. E acho que o banco começa a entender a sua participação, que a sua força de continuar na história dependerá dessa interlocução, desse entendimento das realidades de todos os municípios de Minas Gerais.
Recomendadas para você
LEIA MAIS
- Brasil que funciona
- Grupo SADA está entre as melhores de Minas Gerais para trabalhar
- Guima Café, do BMG, ganha certificação internacional
- Frescatto Company faz parceria com Mowi, maior produtora mundial
- SEMEAR apoia Leilão Embaixadoras do Bem do Sistema Divina Providência
- Instituto Ramacrisna é eleito uma das melhores ONGs do mundo
- Movyx reúne serviços que os proprietários de veículos precisam
- Sicoob Central Crediminas tem novo conselho de administração
VER TODOS