Com três fazendas em 30 mil hectares, 70 mil cabeças de gado, três indústrias em Minas Gerais, a mineira Carapreta está encerrando um ciclo de investimentos de R$ 1 bilhão e já se prepara para iniciar um novo aporte, de R$ 2,2 bilhões, a partir de 2023 e para os próximos cinco anos.
Quem dá os detalhes é Vitoriano Dornas, CEO da Carapreta, que esteve no estúdio da coluna Minas S/A para contar as novidades da marca à colunista Helenice Laguardia.
A empresa do grupo ARG detém a maior fazenda da raça angus da América Latina.
O conteúdo completo da entrevista de Vitoriano Dornas está no vídeo; confira:
De quem é a Carapreta?
A Carapreta pertence ao grupo ARG, fundado em 1978 e que é formado por três acionistas: Adolfo, Rodolfo e José Geo. Atua basicamente em quatro segmentos: segmento da construção pesada no ramo de infraestrutura; segmento de óleo e gás com a parte de petróleo, que tem exploração de petróleo fora do país; a parte de “real estate” em que temos investimentos (no setor imobiliário) tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos; e, por último, o agronegócio, que vem se desenvolvendo desde 2015.
O investimento maior é no agronegócio, é o carro-chefe do grupo?
Hoje o agronegócio é o principal negócio do grupo ARG. A gente já vai atingir R$ 500 milhões de faturamento este ano, então hoje já é o principal braço de negócio do grupo ARG.
O ciclo de investimento de R$ 1 bilhão, que termina em 2023, como foi delineado?
Dentro desse R$ 1 bilhão basicamente a gente investiu na tecnologia desde a parte de maquinário e equipamento para conseguir fazer uma fábrica de ração extremamente tecnológica, que entregue essa nutrição de qualidade para os animais; tem a fábrica de ração própria; fizemos investimentos na área de irrigação para conseguir produzir grande parte do nosso alimento. Hoje 100% do volume de silagem que o animal come é produzido dentro das fazendas Carapreta. Este ano ampliamos mais mil hectares de pivô de área irrigada, com investimento de mais R$ 20 milhões que a gente fez este ano. Além disso, fizemos investimentos na área de energias renováveis; acabamos de inaugurar uma usina fotovoltaica de 4 megawatts (MW) de energia, que, junto com os biodigestores, soma 6 MW. Isso faz a gente se tornar autossustentável na produção de energia das fazendas. Então em relação à fazenda, que foi um dos compromissos que nós assumimos na COP 26 enquanto apresentação de case, já conseguimos conquistar a autossuficiência na geração de energia.
São 30 mil hectares em três fazendas, quais são os nomes delas?
São três fazendas basicamente: fazenda Santa Mônica, fazenda Santa Teresinha e fazenda Santa Terezinha de Jequitaí, todas no Norte do Estado, que tem uma característica de ser uma região extremamente pobre. O IDH da região em que estamos, que é São João da Ponte, é um IDH de 0,56, está entre os 3% das cidades mais pobres do Estado de Minas Gerais. E a Carapreta vem fazendo um trabalho muito forte tanto de buscar desenvolvimento e contratação de mão de obra local quanto também de buscar e firmar parcerias com o comércio local. Dentro dessa iniciativa que nós fizemos no ano de 2021, comercializamos ali, só na região do Norte do Estado, R$ 67 milhões somente com empresas do local, gerando cada vez mais desenvolvimento para aquela região em que estamos inseridos.
São 70 mil cabeças de gado, como fez para chegar a esse plantel?
Ele vem exatamente na busca por uma genética de alta qualidade. Primeiro selecionamos uma genética de alta qualidade e buscamos a compra de matrizes para replicar essa genética dentro das nossas fazendas. Em rebanho foi uma construção de mais de R$ 280 milhões, quase R$ 300 milhões só de crescimento de rebanho. A gente veio formando as matrizes do plantel de matrizes, desenvolvendo essa genética e buscando o aumento, ano a ano, de matrizes, de acordo com o nosso planejamento estratégico, olhando muito para o mercado – o que a gente teria de capacidade de atendimento ao mercado e o que é que geraria de produção de animais para as nossas indústrias. Nossas três indústrias são muito focadas em atender exatamente o tamanho das nossas produções para que não tenhamos um custo fixo extremamente elevado, que nos deixe pouco competitivos no mercado, e que consigamos, então, manter realmente a nossa missão sem precisar abater nenhuma cabeça de nenhuma outra fazenda terceirizada, a não ser da Carapreta, garantindo o nosso conceito, que é o “farm to table”, da fazenda até a mesa.
O aumento do rebanho vai acompanhar também esse investimento nos próximos anos para ganhar mercado?
Estamos focados em seguir à risca nosso planejamento. Este ano esperamos crescer 40%, então é um crescimento forte, e buscamos atingir um abate de 60 mil cabeças/ano nessa primeira onda de investimento, que nós fizemos de acordo com o tamanho de mercado que nós temos hoje mapeado. Hoje a Carapreta é uma empresa que já tem seus produtos 100% comercializados e vendidos, então nós crescemos atendendo o crescimento dos clientes atuais e também abrindo novas áreas de crescimento no Brasil e do mundo. Hoje 90% desse faturamento da venda, comercialização das proteínas, é no mercado interno e 10% no mercado externo, basicamente estando no Oriente Médio e Hong Kong, que são os locais mais fortes de exportação com que a Carapreta tem trabalhado.
No processamento da carne nas três indústrias, onde elas estão instaladas e qual é a capacidade produtiva delas? Elas estão com a condição de aguentar esse aumento de produção?
São três indústrias – duas são dentro da fazenda Santa Teresinha, a indústria de pescado e a indústria de ovinos –, e a indústria de bovinos fica em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Nossa capacidade de produção de pescado hoje é em torno de 700 toneladas de peixe por mês em três turnos. Hoje trabalhamos em torno de um turno, trabalhando de 200 a 250 toneladas por mês de processamento de peixe. Nossa planta de ovinos consegue abater e chegar a 60 mil animais no ano, e estão aí em torno de 30 mil (animais) trabalhando também com um turno cheio, e aqui na indústria de bovinos a gente consegue chegar sem problema a 120 mil animais. A primeira rodada é 60 mil, e a gente trabalha muito em turno. Por que a gente consegue esticar essa produção? Seria rodar a planta 24 horas, então três turnos. A gente dimensiona a planta muito por turno exatamente por questão de custo fixo, para conseguir trabalhar com custo fixo adequado naquele turno, otimizando o máximo de produtividade possível que a gente consegue tirar das plantas.
Depois desse ciclo de investimentos de R$ 1 bilhão, que termina no ano que vem, vocês já estão preparando a próxima década, já estão com os projetos todos na mesa?
Já temos alguns planos estratégicos bem discutidos e já temos alguns projetos em mente. Posso citar dois bastante importantes: um deles é uma nova indústria na fazenda para bovinos, um frigorífico que busca a internacionalização de fato da empresa, então aumentando a participação do mercado externo.
Mas o mercado externo está demandando mais a carne da Carapreta?
O mercado externo é extremamente demandador, e a gente olha no mercado externo alguns players específicos: China, União Europeia, Estados Unidos e Israel são mercados em que a gente pretende entrar muito forte e de que a gente não participa hoje. São mercados que a gente vê que tem cortes extremamente interessantes, e a gente consegue aumentar o faturamento aqui com os mesmos cortes, melhorar o faturamento, a qualidade da receita.
Dá para adiantar para a coluna Minas S/A o que é o novo plano de investimento?
Além do frigorífico, a gente quer ser autossuficiente em produção de grãos, então a gente busca pelo menos 5.000 hectares irrigados para produção de grãos, para dentro do negócio.
Mas aí vocês têm que comprar esses 5.000 hectares porque os outros 30 mil hectares já estão ocupados, não é?
Nós vamos adquirir essas áreas no Norte de Minas. Quando pegamos esse plano de expansão entre produção de grãos em que nós vamos fazer a autossuficiência e também aumentar a produção em torno de mais 10 mil hectares para comercializar ao mercado, nós estamos falando de um plano de investimento que pode chegar a R$ 2,2 bilhões nos próximos anos para a Carapreta entre a indústria e a autossuficiência depois de 2023, quando consolidamos essa primeira fase de investimento.
O novo ciclo de investimentos começa em 2023?
Em 2023 é a nossa previsão e para os próximos cinco anos.
Esse plano inclui o aumento da produção de ovinos e pescados, tem escalabilidade nessa produção?
Sem dúvida. O pescado é uma proteína em que a gente acredita muito, é uma das proteínas de que mais cresce o consumo no mundo. Estamos hoje com 7,5 bilhões de habitantes no mundo e até 2050 vamos chegar a 10 bilhões de habitantes, e esse povo precisa comer. E a gente vê um movimento muito crescente de peixe em consumo porque é uma proteína que ainda é um valor mais em conta e que traz também saudabilidade, que o consumidor está buscando. Então a gente consegue crescer pelo menos umas cinco vezes essa produção nossa na Carapreta, buscando mercado.
Esse investimento de R$ 2,2 bilhões para o próximo ciclo de investimentos, a partir de 2023, são recursos próprios do ARG ou o grupo vai ao mercado para um arranjar um novo sócio, um fundo de investimento, ou até mesmo fazer um IPO (oferta pública inicial) na Bolsa de Valores?
Estamos nessa fase do planejamento estratégico, em que nós estamos trabalhando, entendendo todos os balanços, tudo que nós já temos, e pensando qual é a melhor estratégia para poder trazer esse recurso aqui, para dentro do Estado de Minas Gerais, nesses investimentos.
A questão de atingir mais pontos de venda, como é que está esse trabalho?
A Carapreta está em 23 Estados brasileiros e 13 países. São mais de 5.000 pontos de venda. A Carapreta participa dos melhores pontos de vendas.
Vocês vão investir no canal digital? Dentro da primeira fase, já estamos em Belo Horizonte com o canal digital forte. Estamos com a primeira loja (física), uma flagship, no bairro Belvedere, em Belo Horizonte. E, no segundo semestre, esperamos abrir uma loja ou nos Jardins, ou no Itaim, em São Paulo.
São mais de mil empregos na Carapreta. E vai aumentar o número de pessoas?
São mais de 1.400 empregos, e a gente deve ter uma contratação em torno de mais de 10% desse quadro para aumentar para este ano. Isso vai tanto para o aumento de produção dos pivôs – a gente aumentou muito a área irrigada, então a gente precisa de mais mão de obra, de mais operadores – quanto também a gente vem aumentando esses 40% que a gente busca de crescimento, vai aumentar a produção das indústrias. Então aqui, em Contagem (na região metropolitana de Belo Horizonte), a gente também vai contratar nas indústrias. E para as lojas também a gente está contratando, para essas novas lojas de que a gente está falando aí. Além disso, tem a parte comercial, que está em constante expansão para conseguir esse crescimento de 40% no mercado.
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