MURILO ROCHA

Cenário apocalíptico

Redação O Tempo


Publicado em 14 de abril de 2017 | 03:00
 
 
 
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Após a implicação de mais de duas centenas de pessoas na lista da Odebrecht – entre elas ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos, membros do TCU... –, restou ao país um cenário de pós-apocalipse, um sentimento de incerteza. Se já havia nas ruas um perigoso pensamento antipolítico e antipartidário, depois da denúncia, ele foi elevado a outro patamar. Ninguém parece ter confiança, acreditar ou ter esperança em nada ou em ninguém. A política está posta hoje para o eleitor como vício moral.

Pairam dúvidas, e não são poucas, de como será conduzido cada processo, se será possível separar os crimes mais graves dos menos. E as punições? Elas ocorrerão ou apenas serão processos postergados até expirarem os prazos? A seletividade demonstrada até aqui na exposição de cada investigado refletir-se-á nas sentenças? Será possível fazer uma renovação nas próximas eleições? Essas e outras inúmeras perguntas permanecerão sem resposta ainda por muito tempo.

Enquanto esse capítulo, o mais esperado da Lava Jato, se desenrola de maneira imprevisível, um Congresso e um governo sob suspeição estão decidindo há alguns meses questões cruciais para o futuro próximo do país – por exemplo, as reformas da Previdência e trabalhista. Mas com qual legitimidade parlamentares acusados de recebimento de propina, de desvio de dinheiro público e de enriquecimento ilícito vão legislar?

Não, as instituições não estão funcionando, como se repete a todo momento para defender a excludente e frágil democracia brasileira. E, caso estivessem, no caso específico da Câmara e do Senado, deveriam parar ou repensar seu funcionamento até o esgotamento desse oceano de denúncias contra a classe política.

Mas, nesse cenário desértico, apesar de toda indignação e gravidade das denúncias, vão prevalecer até segunda ordem as vontades dos ocupantes do poder. O presidente Michel Temer (PMDB) já deu a senha ao fazer cara de paisagem um dia após a publicação da lista do ministro do STF Edson Fachin autorizando as investigações, inclusive contra nove ministros do governo federal.

Desesperado para aprovar as reformas a qualquer custo, Temer pediu para não haver paralisação no Poder Público. Anteontem, preocupados com o feriado e ainda assombrados com a publicação das delações da Odebrecht e a “lista de Fachin”, parlamentares ignoraram o apelo de Temer, e o Congresso ficou às moscas. Mas, na próxima semana, a “rotina” deve voltar ao normal.

Ainda no cenário político, quem ficou fora da delação do fim do mundo sorri e vê um futuro promissor. Bolsonaro já deu o ar da graça, por exemplo, mas quem mais se deu bem, indubitavelmente, foi o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), pré-candidatíssimo hoje à Presidência da República. 

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