O regime da presidente Dilma Rousseff, o qual já resultou na redução de 15 kg desde o fim de outubro do ano passado, parece uma metáfora do seu novo governo. A todo momento, corta-se algo do cardápio ou se reconhece um comportamento meio “compulsivo” no passado e agora condenável. “Sinto muito, mas um pouquinho tem que fechar a boca”, disse a presidente anteontem em um evento no Rio de Janeiro. Ela falava, claro, da dieta imposta pelo médico argentino Máximo Ravenna, mas podia muito bem estar referindo-se, por exemplo, à decisão da sua equipe de comunicação de mantê-la afastada de aparições ao vivo na televisão ou em eventos públicos para evitar o desgaste com os panelaços e as manifestações contra o governo federal desencadeadas após sua reeleição. Abrir a boca, agora, só nas redes sociais.
“Não tem regime fácil, não tem jantar de graça. Não tem almoço nem café da manhã de graça”. Estaria a presidente falando do método de corte dos carboidratos simples (arroz, pão, macarrão) ou do fim dos incentivos para consumo dos produtos da chamada linha branca (fogões, geladeiras, máquinas de lavar...).
No seu primeiro mandato, a desoneração tributária era quase uma política de governo. Agora, orientada por outro especialista de sua confiança, esse da área econômica, Dilma cortou essas “gorduras” de maneira drástica, incluindo o fim do IPI reduzido para automóveis. A venda de veículos batia recorde em cima de recorde até 2013 e era um dos termômetros usados pela União para vender o crescimento econômico do país. Agora, com os pátios das montadoras e as concessionárias lotadas, o receituário mudou. “Tem que fazer uma ginasticazinha, uma caminhada”, recomendou Dilma ao falar de suas novas medidas.
Ainda nessa mistura de política econômica com dieta alimentar, dá para perceber nos discursos da presidente um reconhecimento do excesso de consumo nas gestões passadas e a tentativa de passar maior leveza com o novo regime. “Eu era mais magra. Sempre fui mais magra, mas engordei. Que tem de fazer? Tem de manter uma alimentação saudável e tem de fazer exercício físico. Por quê? Vai evitar doença de coração, vai melhorar qualidade de vida, vai gastar menos dinheiro com remédio”.
Não há dúvida, presidente. O equilíbrio e o bom senso na hora dos gastos são fatores preponderantes para uma boa saúde financeira do país. A preocupação, como em todo regime, é a concentração em uma só fonte para perder peso, desequilibrando um sistema já frágil pelos poucos recursos.
E no caso da dieta imposta pelo “médico” Joaquim Levy, quem tem perdido mais é quem tem justamente menos para perder. Os cortes de direitos trabalhistas e as limitações no Fies e nos empréstimos da Caixa Econômica não podem ser o único remédio para a obesidade do governo. Há sempre também o risco do efeito sanfona, uma consequência comum da maioria das dietas, mesmo as mais renomadas.
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