Com a reação do governo e de seus apoiadores, antes acuados pelas manifestações pró-impeachment, o placar final da votação sobre o processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados ficou incerto. A derrocada da presidente na Casa, tida como certa até duas semanas atrás, curiosamente, começou a perder força justamente quando o principal “aliado”, o PMDB, anunciou sua saída. A cúpula do partido, orientada pelo vice-presidente Michel Temer, avaliou mal o cenário e ignorou um princípio básico tanto na física como na política: não existe espaço vazio.
Na prática, com a debandada peemedebista, o governo conseguiu espaço para trocar um aliado incerto, capaz de uma traição na última hora, por vários apoiadores no chamado “baixo clero”, no qual a fidelidade comprada por cargos de primeiro, segundo ou terceiro escalão é mais resiliente.
Pelas contas de hoje, a oposição ainda não teria os 342 votos (dois terços da Câmara) necessários para o impeachment nem o governo tem a garantia dos 172 para barrar o processo. Até o domingo dia 17 de abril, previsão para a votação no plenário, esses números devem oscilar, mas, se não acontecer nenhum fato novo relevante, a tendência é chegar à data da apreciação sem a certeza de qual lado vencerá.
Uma das poucas convicções de quem acompanha o processo de perto é a falta de perspectiva a partir do dia seguinte. Se Dilma for afastada – o Senado ainda teria de apreciar e referendar o parecer da Câmara em caso de impedimento –, um eventual governo de Michel Temer irá se deparar com a mesma falta de governabilidade, com o agravante do sentimento de regra do jogo quebrada. Pode até ocorrer um respiro de otimismo por parte do grande empresariado (em sua maior parte favorável à deposição da presidente), mas as crises política e econômica permanecerão, assim como a divisão da sociedade.
Temer assinou decretos autorizando as chamadas “pedaladas fiscais”, infração pela qual Dilma está sendo julgada, como também foi citado em delações da Lava Jato. Para piorar, seu sucessor, em caso de sua cabeça rolar, é Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje, talvez, o político mais envolvido em acusações e denúncias formais do país – mesmo assim, presidente da Câmara e responsável por atrasar o andamento do processo do qual é réu no Conselho de Ética e acelerar o do impeachment de Dilma, seu desafeto político.
Por outro lado, se a presidente conseguir derrotar seus opositores na Câmara, o país também continuará conflagrado e paralisado. Em vez de contar e cotar votos, o mais prudente nessa hora talvez seja pensar uma estratégia para o dia seguinte. Já há gente surfando nessa onda.
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