Open Mind Brazil

Desafiando o viés de sobrevivência

Uma jornada sem ilusões

Por Dante Rossi
Publicado em 29 de novembro de 2023 | 07:30
 
 
 
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Dante Rossi é diretor de demand and supply planning na Henry Schein Brazil e integrante do Open Mind Brazil

Você já parou para pensar que o seu cérebro, na busca incessante por eficiência, adora pegar atalhos? Esses atalhos podem ser traiçoeiros, nos levando muitas vezes a julgamentos imprecisos e equivocados. E um desses atalhos, digno de um Oscar, é o famigerado viés cognitivo. 

Um dos meus vieses cognitivos favoritos é o viés de sobrevivência. Sabe aquele hábito de focar só os casos de sucesso e fingir que as histórias de fracasso não existem? Esse é o truque do viés de sobrevivência, o mago das decisões questionáveis e julgamentos tortos. 

Na selva corporativa, esse viés é como uma sombra persistente a espreitar nos cantos da sala de reuniões, pronto para confundir estrategistas e sabotar decisões. Empresários e executivos, segurem seus chapéus, pois essa tendência de só olhar para os contos de fadas empresariais pode desencadear uma crise existencial. 

Na sala de reuniões, o viés de sobrevivência pode trazer encrencas. Empresas vitoriosas viram superestrelas, enquanto as que afundaram são rapidamente varridas para debaixo do tapete. Resultado? Decisões equivocadas em relação a riscos, pois os gestores podem superestimar a probabilidade de sucesso, com base apenas nos casos de empresas que prosperaram. 

Além disso, ignorar falhas passadas pode levar a uma falta de aprendizado organizacional, fazendo com que se repitam os mesmos erros daqueles que já fracassaram. 

E para os profissionais, o viés de sobrevivência é um camaleão. Analisando carreiras de sucesso, é como se jogássemos holofotes nos acertos e escondêssemos os fiascos num porão escuro. Isso cria uma narrativa distorcida da realidade, levando a expectativas irrealistas e decisões subestimadas. Afinal, lembrem-se: a cada Steve Jobs que vira ícone, existem milhares que tentaram e falharam, e esses não ganharam uma biografia na livraria da esquina.

Mas nem tudo está perdido. Mitigar o viés de sobrevivência requer uma abordagem consciente e proativa, e reconhecer que ele te pertence é o primeiro passo. É essencial também criar uma cultura organizacional que valorize a transparência e a honestidade. Isso significa encorajar a análise crítica das experiências, tanto as bem-sucedidas quanto as malsucedidas, promovendo um ambiente em que os erros são vistos como oportunidades de aprendizado, e não vilões a serem eliminados. 

Diversificar estratégias e correr atrás de feedback construtivo também são táticas infalíveis contra o viés de sobrevivência. Isso não apenas fortalece a resistência diante dos desafios, mas cria uma cultura de aprendizado constante. 

Em última análise, reconhecer o viés de sobrevivência é o primeiro passo para sair deste jogo de ilusões. Encare o sucesso e o fracasso de forma holística, construindo alicerces sólidos para um crescimento sustentável e uma inovação que vai além do sonho de criar a próxima Apple. Porque, vamos combinar, nem todo mundo pode ser um Steve Jobs, e está tudo bem. 

 

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