PAULA PIMENTA

Até o infinito, ida e volta

Redação O Tempo


Publicado em 09 de agosto de 2014 | 03:00
 
 
 
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Amanhã é Dia dos Pais. A maioria das pessoas que eu conheço acha seu pai um super-herói, o melhor do mundo, essas coisas todas que a gente lê nos cartões das papelarias ou nas mensagens prontas da internet. Mas o meu não é bem assim... E é sobre ele que eu vou escrever agora.

Meu pai para mim é muito mais do que aqueles pais clichês de livros e filmes, que dão conselhos, que estão sempre ao nosso lado na hora certa, que parecem ter saído de uma novela. Mas é justamente por essa razão, por não ser nada disso, que ele é real. Tem qualidades, tem defeitos, tem manias... E mesmo assim é o único pai que eu desejaria para mim. Porque ele nunca fingiu ser o que não é apenas para dar um bom exemplo.

Meu pai me deu tantas coisas, que todas as linhas dessa crônica não seriam suficientes para enumerar. Inclusive, tenho uma confissão (meio constrangedora) a fazer: Vocês se lembram do filme “A Fábrica de Chocolates”? Eu amava a versão original (aquela que passava na “Sessão da Tarde”) especialmente porque eu me identificava com a... Veruca. Sim, aquela menina egoísta e mimada, de quem o pai realizava todos os desejos... É, o meu pai era exatamente como o pai dela. Bastava eu sonhar com alguma coisa que na manhã seguinte (ou até no mesmo dia) ela se materializava na minha frente. Eu era aquela que tinha tudo antes de todo mundo. E eu enchia a boca pra falar: “Foi o meu pai que me deu”, com o maior orgulho!

Pelo que sei, essa vocação para “gênio da lâmpada do Aladim” dele começou cedo. Minha mãe conta que, aos 3 anos de idade, eu ainda usava bico – que eu carinhosamente chamava de “bubu” – e ela e meu pai faziam de tudo para que eu me livrasse daquele hábito. Então, em um fim de semana, fomos para o sítio do meu tio, em Três Marias, e meus pais me prometeram alguma boneca, desde que eu jogasse o bico no rio São Francisco. E assim aconteceu. Fomos pescar, no meio do rio eu tirei o bubu da boca, o arremessei e... me arrependi. Comecei a chorar ao ver o meu lindo bico laranja à deriva. Meu pai não teve dúvidas: no mesmo instante pulou na água e resgatou o meu bubuzinho do coração! Não lembro bem o fim da história, mas não tenho a menor dúvida de que depois eu ganhei a tal boneca também...

Meu pai teve grande influência no meu amor por leitura. Na minha infância e início da adolescência eu o via constantemente com um livro na mão e sempre queria imitar. Tenho lembranças de nós dois, lado a lado, cada um lendo um livro e felizes por estar perto e compartilhando aquela paixão literária. Ele também nunca me negou um livro sequer. Podia até recusar algum brinquedo, por eu já ter muitos ou por ter tirado alguma nota baixa. Mas livro não. Bastava que eu dissesse o nome, que a coleção inteira surgia no meu quarto. Talvez por isso, até hoje eu tenha esse amor todo por leitura e essa vontade de ter todos os lançamentos do mundo! Pena que atualmente os livros não surgem mais no meu quarto, como por encanto...

Sorte ter um pai assim, não é? Mas sabe da maior? Meu pai nunca foi só meu. Ele era o pai da turma inteira! Na época da adolescência, era ele que no meio da madrugada buscava minhas amigas e eu nas festinhas. Todos os pais preferiam levar nos eventos, mas buscar era uma tarefa árdua. Eu entendo, afinal, quem gosta de levantar no meio da noite para buscar a filha e ainda sair “distribuindo” suas amigas de porta em porta? Porém, ele não se importava. Talvez por ser médico obstetra e estar acostumado a telefonemas no meio da noite, ou quem sabe porque só descansava realmente ao me ver sã e salva em casa, mas o fato é que ele mesmo se oferecia para exercer aquela função que ninguém mais queria. E por isso mesmo ele era (e ainda é) tão querido pelas minhas amigas. Todo mundo ainda lembra que ele era o pai camarada, que fazia o nosso resgate de madrugada sem reclamar e ainda ria das nossas histórias.

Outra lembrança que tenho e que hoje em dia (nessa época tão politicamente correta em que vivemos) pode parecer banal é que antigamente eu me orgulhava em dizer que eu nunca tinha levado uma palmada do meu pai. Nem de brincadeira. Os castigos pertenciam à minha mãe. Meu pai é daqueles que “estraga” os filhos, que não consegue vê-los sofrer nem se for para o bem deles...

Meu pai é o meu maior fã. O primeiro livro que escrevi na vida foi ele que “pai-trocinou”. Só que ele nunca encarou isso como um presente para mim, mas sim como um investimento. Ele queria que o mundo inteiro me conhecesse, pois achava que todos se apaixonariam pelas minhas palavras, caso as lessem... Bem, não posso afirmar isso, mas dez livros depois, publicados por grandes editoras, só posso dizer que eu acho que o investimento dele valeu a pena...

Muitos anos atrás, eu gostava de ver as estrelas com meu pai. E ele sempre me perguntava olhando para o céu: “Sabe o quanto eu te amo?” E antes mesmo de ouvir a resposta, ele dizia: “Até o infinito, ida e volta”.

Depois de recordar todas essas passagens e relendo agora o parágrafo inicial, vejo que eu estava enganada. Meu pai é sim um super-herói. Um daqueles pais de cartão da Hallmark. Porque ele é autêntico, é perfeito, o melhor pai que eu poderia querer. Mesmo sem superpoderes, sei que ele me salva em qualquer momento que eu precisar. E essa crônica é pra agradecer.

Obrigada, papai. Te amo até o infinito. Ida e volta.

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