Paulo César de Oliveira

A falta de lideranças

Oportunismo eleitoral e urgência de adotar novas práticas


Publicado em 14 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Vou, novamente, me socorrer na experiência das raposas da política mineira: em política não existe cadeira vaga; se os bons se afastam, os aproveitadores ocupam os espaços do Poder. É esse o quadro que, de forma preocupante, se desenha já para as disputas municipais deste ano.

Em todos os partidos aquilo a que se assiste é o refluir das lideranças – e das que poderiam surgir – e o destacar daqueles que, apenas por serem mais conhecidos, muitos em razão das atividades que exercem, se lançam pré-candidatos. Alguns, é preciso reconhecer, com alto risco de se elegerem em razão do conhecido jeito do brasileiro de votar. E isso, com certeza não é bom para o Brasil.

Precisamos de muito mais do que um simples slogan para mudarmos o país. Dizer apenas que se quer praticar “uma nova política” não muda nada. Até porque nada é mais vazio do que essa afirmativa. Precisamos, sim, é de líderes que sejam capazes de entusiasmar o povo na busca de mudanças. Políticos capazes de conduzir o debate para o convencimento do povo de que mudanças são necessárias. Não de políticos que radicalizem, num primeiro momento, para depois fanatizar supostos seguidores, incapazes de entenderem até mesmo aquilo que defendem.

Esse processo de radicalização que arrasta analfabetos políticos e espertalhões que se beneficiam dessa prática é que tem afastado da vida política potenciais lideranças. O resultado é que as cadeiras vazias são ocupadas por incompetentes e, em muitos casos, corruptos, que se aproveitam do poder, deixando de fazer dele um instrumento em benefício do povo. E esse quadro, sem pessimismos, mas com realismo, tende a se agravar.

Lideranças políticas são formadas no campo de luta. Na participação de movimentos estudantis e de classe, o que se vê no país é a mais total apatia, desinteresse, como se nada dependesse de nós. Criamos uma autodefesa para justificar nossa apatia dizendo que safadeza, corrupção e violência mesmo é “coisa da política e que o melhor mesmo é ficar longe disso”. E, assim, deixamos as coisas acontecerem. E elas vão continuar acontecendo enquanto não reagirmos. Todos nós.

Reagir não é apenas votar. É com ele que mudamos nomes. Nomes apenas não basta, precisamos criar novas práticas políticas no país. Temos muitas situações de privilégio consolidadas que precisam ser desmontadas. Mudança de mentalidade não apenas dos políticos, mas também, e talvez principalmente, dos servidores públicos sem a qual será impossível reformar o país.

Uma reforma não se faz destruindo instituições, como pensam e agem alguns. De nada adianta jogar pedras, usando redes sociais como estilingues, para desmoralizar as instituições públicas. Não se destrói a democracia para reconstruir o Estado. Só os imbecis e os mal-intencionados agem assim. Para mudar, o primeiro passo é acordar. E depois participar.

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