O país está passando pela pior fase da pandemia do coronavírus, com milhares de infectados e mais de 300 mil mortos. Assiste ainda à falta de profissionais da saúde e de insumos nos hospitais e unidades de atendimento básico, causando sofrimento e morte de pacientes que poderiam ser salvos se tivessem tido tratamento adequado.
O quadro atual é consequência da inércia do governo como resultado do inexplicável e insano negacionismo do presidente Bolsonaro, que se recusava até a usar máscaras e voluntariamente provocava, e ainda provoca, aglomeração de seus fanáticos seguidores, numa tentativa de demonstrar uma estranha superioridade em relação ao vírus.
Com o ressurgimento político de Lula – patrocinado pelo instável Judiciário –, usando máscaras e criticando os que negam a ciência, Bolsonaro deu sinais de que adotaria uma nova postura. Rendeu-se, mas nem tanto. A permanência do general Pazuello no Ministério da Saúde, no qual apenas cumpria as determinações destrambelhadas de Bolsonaro, foi mais uma razão do atraso no combate à pandemia.
Atraso que está custando ao presidente a perda de apoios na sociedade, com o acordar para a realidade dos sonhadores que, para fugir do PT, viram nele o messias que poderia salvar país do satanás da esquerda. Atraso que está tornando cada dia mais caro, financeira e politicamente, o apoio das aves de rapina que se agrupam sempre que sentem o cheiro de um governante perdido.
Acuado, pressionado, Bolsonaro assiste emergirem lideranças mais responsáveis e comprometidas com o país, que trabalham soluções para atender povo. Não fosse, por exemplo, o governador João Doria, de São Paulo, talvez o país estivesse em uma situação ainda mais crítica no processo de imunização de sua população. Ele, incentivado por lideranças da sociedade e outros governadores, viabilizou a produção da vacina no país e tornou possível o sonho brasileiro da autossuficiência na produção de um imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan.
Num rompante populista histérico, horas depois do anúncio de Doria, o presidente mandou seu ministro de Ciência e Tecnologia avisar ao mundo que o seu governo também tinha desenvolvido uma vacina. Bolsonaro praticou o que em política é conhecido como “ato inútil”, que serve apenas para atiçar ânimo dos fanáticos e gerar insegurança entre aqueles que se preocupam realmente com o país. Não era hora de agitar o palanque, de “colocar fogo no parquinho da política”.
Bolsonaro precisa despir-se da arrogância e admitir que não é a pessoa certa para conduzir um diálogo nacional neste momento. O melhor a fazer é “sair de fininho”, como ensina a sabedoria juvenil, e ir cuidar de outras coisas. Certamente o país tem outros problemas.
Deixe a tarefa de costurar um entendimento com governadores e prefeitos para a formulação de uma política nacional de enfrentamento da pandemia com o presidente do Congresso, o mineiro Rodrigo Pacheco.
O senador recebeu a tarefa de coordenar o comitê de enfrentamento da crise. É preciso que tenha autonomia e tranquilidade para trabalhar, autonomia e tranquilidade para costurar um entendimento nacional. Não pode ficar agindo como bombeiro, apagando incêndios políticos provocados por radicais e por quem só pensa em 2022. Temos um monstro a enfrentar em 2021. Não atrapalhe, presidente.