Quem assiste pela televisão, ou mesmo pelas redes sociais, às imagens de diversas cidades brasileiras – a nossa BH é uma delas – tem a impressão de que a pandemia do coronavírus está nos estertores. Mas não é essa a verdade. O vírus está aí, pronto para atacar os desavisados. O uso de máscaras é importante, e a não aglomeração também. É o que a medicina sabe, mas, como venho dizendo há algum tempo, ninguém sabe de nada.
Na live Conexão Saúde e Bem Estar, realizada na última quinta-feira, o infectologista Adelino de Freitas disse ao entrevistador Gustavo César de Oliveira que hoje devemos ser mais de 200 milhões de infectologistas, opinando sobre a pandemia. Brincadeira à parte, cada um quer dar seu palpite.
Na semana passada, a vacina foi politizada pelo presidente Bolsonaro, ao desdizer o seu correto ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a compra da vacina chinesa. Só porque o governador de São Paulo, João Doria – que pode ser um candidato forte em 2022 –, defende o produto desenvolvido pelo Instituto Butantã em parceria com empresa chinesa. O Ministério da Saúde chegou a anunciar que iria comprar 46 milhões de doses quando aprovada pela Anvisa. A reação de Bolsonaro foi despropositada e num momento errado, se é que existe momento certo para destemperos políticos.
Vivemos tempos difíceis e de incertezas. É, no mínimo, imprudente discutir sucessão. E Bolsonaro só está pensando e agindo pela reeleição. Enquanto isto, as brigas internas no governo vêm a público, provocando um desgaste político que provoca instabilidade política e assusta investidores.
Depois de Rogério Marinho e Paulo Guedes se desentenderem, agora é a vez do ainda ministro Ricardo Salles – que não é bem-visto no mercado – criticar, através da rede social, o ministro Luiz Eduardo Ramos, um militar de quatro costados que já deu mostras de liderança em seu meio e de capacidade de diálogo no meio civil.
Em defesa do general, Rodrigo Maia, presidente da Câmara, afirmou o que muitos pensam e se calam por conveniência: Salles acabou com o meio ambiente e agora quer acabar com o governo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também saiu em defesa do general Ramos.
Mesmo com os avanços do governo na economia, na qual predomina a mineração e o agronegócio, o presidente Bolsonaro tem que mostrar sua liderança política. E para isso não deve falar tanto. Quando fala muito, só atrapalha e tumultua. Neste momento, o silêncio vale ouro. É que em 20 dias o país vai às urnas para escolher prefeitos e vereadores. E uma derrota acachapante do governo, como se desenha em algumas das mais importantes cidades, pode complicar a vida do presidente. Melhor calar. É menos “arriscoso”, como dizem em certas regiões do interior de Minas.
Esse posicionamento do presidente Bolsonaro, de abrir uma disputa político eleitoral tendo como mote a vacina chinesa e a proposta de vacinação em massa da população, está a exigir um posicionamento dos governadores. A hora é grave e não permite que se abra espaço para os omissos. É preciso despolitizar o tema e exigir que as questões sejam tratadas com responsabilidade. É o mínimo que se pode esperar dos que foram consagrados nas urnas pelo povo com seu representante.