Elas são centenas, na verdade, mais de duas centenas além do que se imaginava que fossem: são as estatais brasileiras federais e estaduais que tornam o Estado presente em praticamente todos os setores da economia. A lista de empresas mostra de banco a hotel e prova que nossos governos estão metidos em todos os ramos e nas mais diferentes maneiras de participação societária. O que não muda muito é o resultado que elas entregam. Em sua maioria, são deficitárias e dependentes de aportes e de dinheiro que poderia estar sendo usado para atender a população em saúde, segurança, educação, enfim, naquilo que é realmente a função do Estado.
A verdade é que o Estado, pelo menos o brasileiro, é mau empresário ou, no mínimo, escolhe mal os gestores de suas empresas. A ordem agora é sair, deixar a atividade empresarial para a iniciativa privada, privatizando, desestatizando, desinvestindo ou concedendo. Sair é uma política assim como foi transformar o Estado em empresário, decisão política que constituiu alternativa do governo para impulsionar segmentos da economia que eram colocados como de interesse da segurança nacional ou estratégicos para impulsionar o crescimento da economia em áreas definidas pelo governo.
Foi durante o regime militar que as estatais, de controle direto, de controle indireto, coligadas ou mesmo de simples participação, se multiplicaram e se transformaram em mais de 600. Em muitas delas, a participação do Estado se justificava. Em outras, não.
O Estado – União e governos estaduais – se meteu em várias delas para atender interesses de apadrinhados. Tornou-se sócio em negócios obscuros que em nada demandavam sua presença. Apadrinhou empresários que cresceram, e não raros quebraram, por incompetência. A generosidade estatal acostumou mal boa parte dos nossos empresários, viciados no capital público injetado sem critérios. O Estado foi, ao longo das últimas décadas, a alegria de muitos. Gente que se locupletou tendo o público como sócio direto ou indireto de negócios lícitos ou ilícitos.
O levantamento feito pela Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercado, do Ministério da Economia, comandada pelo competente Salim Mattar, mostra a participação direta e indireta da União em 637 empresas. A ordem é sair de praticamente todas elas, preservando-se poucas, como Banco do Brasil, Petrobras, Caixa, avisa Mattar. A ordem é fazer dinheiro e, mais do que isso, acabar com a gastança com empresas nas quais o governo não deveria estar.
É hora de os governos estaduais apresentarem suas realidades. O país precisa conhecer as aventuras empresariais de seus governantes ao longo do tempo. O “Estado empresário” teve, sim – por mais que se combata isso hoje – , importância na nossa economia. Hoje essa presença já não se justifica num mundo de economia com alto índice de globalização. É hora de os governos estaduais destinarem ao povo, não às empresas, os parcos recursos de que dispõem. Por outro lado, é hora de os empresários assumirem seu papel de investir. E deixar a proteção do Estado.